Se o ano de 2021 foi marcado pelo sucesso das vacinas contra covid, criando uma expectativa do retorno do crescimento econômico, 2022 tem a marca da guerra Rússia-Ucrânia, que trouxe de volta um cenário de instabilidade e pessimismo.
A guerra que todos apostavam que seria resolvida de forma rápida já dura dez meses, sem previsão de término. A ausência de grandes líderes mundiais tem feito com que a diplomacia não tenha sucesso em apresentar soluções que determinem acordos de paz e o fim do conflito. A guerra trouxe uma nova geopolítica da energia, traduzida numa volta do empoderamento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e da Rússia, com a criação da chamada Opep+.
A guerra mostrou a fragilidade e os erros da política energética na Europa, que apostou nas fontes renováveis e no gás russo e descomissionou usinas nucleares na Alemanha. O preço do gás natural explodiu, chegando a números inimagináveis de US$ 60/MMBtu, e a Alemanha voltou a consumir carvão. Isso tem levado a duas constatações.
A primeira é que o discurso ambientalista de demonizar os combustíveis fósseis e a energia nuclear foi açodado, e a Europa está pagando uma conta cara. A segunda é que a globalização na oferta de energia foi colocada em xeque, e os países começam a olhar uma política de diversificação do fornecimento de energia à procura de uma autossuficiência, incentivando soluções locais.
Para 2023, com a continuidade da mudança da política de covid zero na China, teremos um novo boom de commodities e o preço do petróleo tende novamente a superar os US$ 100. Portanto, tudo leva a crer que em 2023 teremos um prosseguimento da crise de energia e é bem possível que o inverno de 2023/2024 na Europa possa ser pior que o atual em termos de escassez de energia. Outro movimento é a migração de empresas para países que possuem estabilidade política e matrizes energéticas limpas, como é o caso brasileiro.
E no Brasil? O ano de 2022 foi marcado pela campanha eleitoral polarizada, levando Lula da Silva de volta à Presidência da República. A grande notícia de 2022 foi a privatização da Eletrobras e o início do processo de transformar a Copel numa corporation.
O ano de 2023 ainda está em aberto, mas certas notícias não são boas, como a ideia de criar fórmulas de preço para os combustíveis, paralisar a venda de refinarias e rever a Lei da Eletrobras, que determinou leilões de 8 GW de térmicas.
Em 2023, a bola da vez deveria ser o gás natural, e o desafio será criar políticas e legislações que incentivem o crescimento da infraestrutura e reduzam a reinjeção, aumentando a oferta nacional. Diante do novo cenário geopolítico e geoeconômico mundial, não podemos perder a oportunidade de atrair investimentos para o Brasil. Portanto, não podemos ter compromisso com o passado.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.