Um ano novo está se iniciando e antigos problemas voltam a assombrar o setor elétrico. Um dos temas mais relevantes é a vulnerabilidade da matriz elétrica às condições climáticas. O País já passou por crises hídricas graves, nos últimos anos, que sempre ameaçaram a segurança do fornecimento. Agora, após um 2023 de conforto, no que se refere ao nível dos reservatórios, os efeitos do fenômeno El Niño já começam a deixar o setor elétrico em alerta. O fato é que apesar de o país ter passado por crises hídricas recorrentes, o governo parece esquecer das consequências e, assim, continuamos com um planejamento que não encara de frente a questão da segurança energética. Prioriza-se políticas que demonizam a geração térmica, seja a gás, carvão ou nuclear, privilegiando de maneira, até diríamos, irresponsável as fontes renováveis, em particular, a eólica e a solar, num país cuja matriz elétrica é composta de mais de 80% de energia limpa.
O El Niño é um fenômeno de padrão previsível que aumenta a frequência e a magnitude de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, tempestades e inundações. Seus efeitos afetarão grande parte do mundo, mas estima-se que os países do Indo-Pacífico, da África Austral e da América Latina serão os mais atingidos. No Brasil, as condições de seca em algumas partes do País irão agravar o risco de incêndios, acelerando a deflorestação e ameaçando a geração de energia hidroelétrica.
Apesar da participação hidroelétrica na matriz brasileira estar em ritmo decrescente, em razão da expansão das fontes solar e eólica, permanece responsável por 64% da energia gerada no País. Com o crescimento, sem planejamento, das fontes eólica e solar e com o, ainda, protagonismo da energia hidrelétrica, a nossa matriz está extremamente vulnerável às condições climáticas. O que tem evitado apagões são sempre as maltratadas termoelétricas, que são sempre acusadas de “jabutis” por prejudicar o consumidor com o aumento das contas de luz. Quando, na verdade, quem aumenta as contas são a eólica e solar que possuem um cipoal de subsídios e, ainda, obrigam o governo a fazer investimentos colossais em linhas de transmissão que, também, só fazem subir a tarifa, em particular, a do consumidor cativo. Ou seja, a D. Maria e o Seu José.
O problema do setor está configurado faz tempo. O que falta é vontade política para construir uma matriz elétrica diversificada que atenda a questão da sustentabilidade, da confiabilidade, acabe com os subsídios desnecessários à eólica e solar, consumidores livres e autoprodutor local e remoto. Esses subsídios acabaram por criar o modelo Robin Hood às avessas, onde o mercado cativo paga a conta dos que se beneficiam com subsídios. O fato é que temos de construir um modelo onde não existam privilegiados. E, vamos combinar que um País com a diversidade de energias como o Brasil não pode ser assombrado pelo El Niño.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.