Se me perguntassem qual foi a grande novidade no setor de energia em 2024, responderia, sem titubear, que foi o petróleo. Depois de ser tão demonizado, o petróleo voltou aos holofotes exercendo o seu papel da principal fonte de energia tanto do ponto de vista da geopolítica como uma energia que continua sem substituta.
Na geopolítica, o petróleo financia e continua a financiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia. Apesar das várias tentativas de embargo, isso não impediu a Rússia de encontrar saídas para o seu petróleo, seu diesel e o gás natural. O Brasil mesmo passou a ter como seu principal fornecedor de diesel a Rússia.
A Opep voltou a ter papel de destaque no cenário internacional, bem como os Fundos Árabes no financiando de inúmeros investimentos mundo afora. De certa maneira, estamos vivendo um revival dos tempos dos choques do petróleo dos anos 1970 e 1980 com os petrodólares. Ainda no campo da geopolítica, vivemos a criação da chamada Opep+ que tem como principal parceiro a Rússia.
A guerra trouxe o petróleo para mais de U$ 100/barril ocasionando uma inflação energética e com isso a volta dos investimentos em exploração e produção de petróleo. A volta do crescimento da produção americana de shale oil, e o Brasil e a Guiana tornando-se protagonistas na oferta de óleo, seguraram os preços em torno dos U$ 80/barril, aliados à frustração do crescimento da economia chinesa.
Do ponto de vista da substituição desse chamado ouro negro por fontes mais limpas, a missão está se mostrando bem mais lenta do que todos imaginavam. E a pandemia e a guerra Rússia/Ucrânia trouxeram duas lições: as fontes renováveis não conseguiram trazer segurança de abastecimento, e definitivamente a segurança alimentar está diretamente correlacionada à segurança alimentar.
E o que esperar para 2025? A meu ver, o protagonismo do petróleo permanece e vai frequentar mais ainda os debates e as primeiras páginas da imprensa com a eleição de Donald Trump. Afinal, durante a campanha, junto com o slogan Make America Great Again, o outro slogan mais badalado foi Drill Baby Drill. Isso poderá nos levar a preços mais baixos do barril, mas Trump está visualizando que petróleo mais barato significa inflação mais baixa, o que irá facilitar a sua política de proteção tarifária a produtos americanos.
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De toda forma, acreditamos que o mundo ainda vai precisar de muito petróleo e o fato é que tivemos poucas grandes descobertas nos últimos anos. Só o Brasil que poderá continuar tendo protagonismo com a Margem Equatorial, e agora a Guiana, e isso tem levado a anúncios como a Joint Venture entre Shell e Equinor para recuperação da produção no Mar do Norte.
E mais uma vez aquele país pobrinho que fica aqui perto do Brasil com o seu novo presidente e seu pragmatismo tem tudo para manter a sua liderança no setor de energia e petróleo na cena mundial.
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