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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião|O risco de apagões, um velho conhecido, ronda o Brasil

Por que nos períodos de bonança, como foram 2022 e 2023, quando tivemos um regime de chuva ótimo, não se elaborou uma política consistente para que nos períodos de pouca chuva não passássemos pelo risco de faltar energia?

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Volta a rondar o Brasil o risco de faltar energia. A última vez foi em 2021. Mais uma vez, a causa são os baixos níveis dos reservatórios devido à estiagem que é a pior dos últimos 94 anos. Período de seca significa risco de baixa dos reservatórios e alta na conta de luz. Tanto o tema quanto a sua matemática são velhos conhecidos. E mais uma vez as térmicas, sempre tão demonizadas, serão a solução para tentar evitar apagões e racionamentos. Nada de novo. Se não é nada de novo, por que essas crises se repetem e são recorrentes? Por que nos períodos de bonança, como foram 2022 e 2023, quando tivemos um regime de chuva ótimo, não se elaborou uma política consistente para que nos períodos de pouca chuva não passássemos pelo risco de faltar energia?

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Apesar da situação de aparente oferta de energia, é necessário entender que o sistema elétrico brasileiro ainda é altamente dependente de usinas hidrelétricas. Mesmo com o crescimento de 583% das fontes renováveis intermitentes (eólicas e solares) na matriz elétrica brasileira. Os subsídios oferecidos às usinas de geração distribuída fizeram com que o número de plantas disparasse nos últimos anos, e atualmente o Brasil conta com uma capacidade instalada de 29.587 megawatt (MW) ante apenas 15 MW verificados no ano de 2015, um crescimento de mais de 29.572 MW em um período inferior a dez anos. Da capacidade de geração distribuída atual, 29.316 MW são referentes a empreendimentos solares e 17 MW a eólicos.

As fontes despacháveis, que são as usinas térmicas, possuíam uma capacidade instalada da ordem de 41.554 MW em dezembro de 2015, o que representava cerca de 30% da capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional (SIN). Atualmente, as usinas térmicas respondem por uma capacidade instalada de 48.458 MW, um aumento de apenas 6.904 MW em relação ao ano de 2015.

Usina térmica em Macaé (RJ); geração do tipo é acionada quando reservatórios das hidrelétricas ficam muito baixos Foto: Fabio Motta/Estadão

As fontes intermitentes, considerando apenas as usinas de geração centralizada, cresceram 5,4 vezes mais do que as fontes despacháveis, isso sem considerar o nível de inflexibilidade de usinas térmicas. Se considerarmos a geração inflexível, chegamos a um crescimento relativo ainda maior, estimado em 7,6 vezes. Considerando o nível de inflexibilidade das usinas e o aumento da geração distribuída, é possível concluir que as usinas intermitentes (solar e eólica) cresceram 13,7 vezes mais que as fontes despacháveis (gás natural, carvão e óleo).

O aumento verificado na capacidade instalada do Brasil na última década, com foco em fontes renováveis intermitentes, reduziu a segurança do Sistema Elétrico Brasileiro. Portanto, se quisermos resolver as crises recorrentes provocadas por falta de chuvas, é preciso medidas pró-mercado, como a realização de um leilão de capacidade ainda este ano só com térmicas, como o de 2021, o leilão da Eletrobras e outros dois: um de inovação tecnológica para baterias e um outro para hidrelétricas. Seria o melhor caminho para trazer segurança energética ao País.

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Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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