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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião | Transição energética exige planejamento

Sem o entendimento de que a transição demanda prazos longos, contrataremos uma crise energética futura

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Muito se tem falado e escrito sobre transição energética. Não é a primeira vez que o mundo vive esse tipo de transição. Tivemos a transição da lenha para o carvão mineral e do carvão para o petróleo. Do petróleo, passaremos pelo gás natural, chegando às energias renováveis. A primeira transição se deu pela troca de uma energia menos eficiente do ponto de vista energético por uma mais eficiente. A segunda foi a era do petróleo barato e abundante, que passou a ser usado em quase todos os segmentos da economia. Não é à toa que a maior indústria do século 20 foi a automobilística. O fato de o carvão e o petróleo passarem a ser protagonistas da cena energética nunca significou reduzir a oferta total de energia, ao contrário, o aumento da oferta propiciou ao mundo viver o chamado período dos “30 anos gloriosos”.

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O que diferencia a atual transição energética das duas anteriores? A primeira diferença é o surgimento de uma variável nova, que é a preocupação com o clima. A segunda é que, a meu ver, não teremos uma energia protagonista como foram o carvão e o petróleo. Portanto, deveremos ter uma matriz energética diversificada e regionalizada. A terceira é que estamos cometendo um erro crasso ao demonizar os combustíveis fósseis achando que podemos fazer a transição reduzindo a oferta de energia. O que chegará rápido é inflação, baixo crescimento econômico e apagões provocados por restrição de oferta de energia fóssil.

Ou seja, mais do que nunca precisaremos de todos os tipos de energia. Sem planejamento e sem o entendimento de que a execução da transição demanda prazos longos, contrataremos uma crise energética futura.

Energia solar é uma das fontes renováveis para a transição energética Foto: Tiago Queiroz / Estadão

O mundo cada vez mais vai precisar de energia. Sem a presença de todos os tipos, não iremos corrigir a péssima distribuição pelo mundo. Um americano consome dez vezes mais energia do que um brasileiro. Sem falar que a maioria dos países da África ainda tem como principal fonte de energia a lenha. O grande desafio que se coloca é como enfrentar o trilema segurança energética, sustentabilidade e energia acessível para camadas de menor renda. Aumentar o consumo de gás natural, que representa cerca de 40% da redução de emissões necessária até 2040, e investir em tecnologia de captura de carbono dos fósseis é um dos caminhos que deveríamos adotar.

O Brasil tem uma oportunidade única. Hoje já somos um dos principais fornecedores de alimentos e proteínas do mundo. Na verdade, exportamos água e sol. No caso da energia, o primeiro ciclo foi atrair investimentos em geração de energia limpa. O segundo deveria ser atrair para o Brasil investidores que vão produzir com energia limpa. Seria a forma de exportar energia. Essa seria a verdadeira reindustrialização do Brasil.

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Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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