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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião | O que o governo Trump 2.0 pode significar para o setor energético?

Tom dos decretos publicados sugere que os EUA devem se resguardar para preservar sua hegemonia econômica e cultural

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Foto do author Adriano Pires

Após uma eleição polêmica e polarizada, Donald Trump assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos (EUA), em 20 de janeiro, trazendo a expectativa de mudanças substanciais para diversas áreas da economia e gestão do país. Cumprindo suas promessas eleitorais, em seu primeiro dia de mandato, o chefe de governo assinou cerca de 80 Ordens Executivas, equivalentes a Atos do Poder Executivo no Brasil, abrangendo desde nomenclaturas de marcos geográficos a ideologia de gênero, imigração, carros elétricos e outros.

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No setor energético, declarou estado de emergência. O argumento é de que os cidadãos norte-americanos têm de lidar com uma oferta de energia inadequada e intermitente, além de uma rede elétrica cada vez mais instável. Na visão de Trump, o caminho atual está levando o país a uma condição de dependência de agentes externos, ameaçando a segurança e a soberania nacionais. Um grande foco da ação é permitir o retorno de investimentos para a indústria de Óleo e Gás (O&G), expandindo a produção do país e reforçando sua autossuficiência e influência no palco internacional.

Ainda se tratando de ações com impacto direto no setor de energia, Donald Trump ordenou a suspensão temporária de todos os novos leasings de energia eólica offshore na plataforma continental exterior.

Agentes do setor energético têm opiniões variadas sobre as possíveis repercussões do segundo mandato de Trump Foto: Evan Vucci/AP

De modo geral, é possível desenhar paralelos entre os últimos atos executivos e a abordagem protecionista adotada na virada do século 19 para o 20, quando os EUA priorizaram políticas econômicas que favoreciam a produção doméstica e a independência econômica. Naquela época, o foco estava em proteger a indústria nacional por meio de tarifas e outras medidas que incentivavam a produção interna e limitavam a concorrência estrangeira, enfrentando um cenário internacional de incerteza na Europa e Ásia. Hoje, o discurso é similar. O tom da redação dos decretos publicados sugere que os EUA devem se resguardar para preservar sua hegemonia econômica e cultural, sobretudo ante o avanço tecnológico da China e novas crises geopolíticas no Oriente Médio e Leste Europeu. As medidas são aceleradas, polêmicas e vêm dando uma resposta para esse novo perfil de eleitor do Partido Republicano.

Agentes do setor energético têm opiniões variadas sobre as possíveis repercussões do segundo mandato de Trump. Alguns acreditam que a expansão da produção de O&G e o retorno do foco da indústria automotiva para carros a combustão podem impulsionar a economia a curto prazo, mas também alertam para os possíveis impactos ambientais com a desaceleração do crescimento do segmento de carros elétricos. A suspensão de novos projetos de energias renováveis e, em contrapartida, incentivos à produção de combustíveis fósseis claramente influenciarão na discussão da transição energética e na pauta da COP-30 no Brasil.

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Com a publicação de tantas mudanças e novidades, em tão poucos dias de mandato, fica claro que se pode esperar quatro anos “agitados” pela frente.

Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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