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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião | Uma visão distorcida sobre a transição energética

Esquecer ou negligenciar a segurança energética é, no mínimo, uma irresponsabilidade

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Foto do author Adriano Pires

Temos acompanhado uma sucessão de declarações contestando as térmicas a gás, colocadas na chamada “Lei das Eólicas Off Shore” (PL 576/2021), aprovada pelo Congresso Nacional. A nova Lei reduziu de 8.000 MW para 4.250 MW, com a única diferença, em relação a anterior, que o preço da molécula agora deve ser obtido por um processo público de aquisição, visando garantir maior transparência e isonomia entre os agentes interessados.

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Mesmo diante desses aperfeiçoamentos com a redução a quase metade da energia, analistas insistem em falar, com números altamente questionáveis e enviesados e nada sérios, que o custo de aquisição de 4.250 MW será superior ao de 8.000 MW. E novamente, tentando influenciar a imprensa e a sociedade, insistem no falso argumento de que os custos da geração solar e eólica são muito menores.

Ao mesmo tempo, escondem que hoje a capacidade de regularização dos reservatórios, que no final da década de 1990 era dezenas de meses, passou para não mais que seis meses. Ou seja, hoje é a geração termelétrica que traz segurança energética para o Sistema Interligado. Esquecer ou negligenciar a segurança energética é no mínimo uma irresponsabilidade.

A título de comparação, o problema de suprimento de energia no ano de 2001, conhecido como Apagão, custou ao Brasil, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), naquele pequeno espaço de tempo, cerca de R$ 140 bilhões, atualizados para hoje.

Sem térmicas a gás, teremos uma transição sem segurança e energia mais cara Foto: André Valentim/Agência Petrobras

Os consumidores pagaram um pouco mais da metade desse valor e o Tesouro Nacional o restante. Em 2021, batemos na trave e esse ano voltamos a correr perigo. Portanto, a construção de um parque termelétrico, que use o combustível da transição – o gás natural –, permitirá mais geração intermitente, como solar e eólica, e melhor gerenciamento dos reservatórios das hidrelétricas, reduzindo a volatilidade do preço da energia.

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Existe um argumento falacioso de que está sobrando energia, até por isso que os geradores eólicos e solares estão sendo cortados – o chamado curtailment. Mas a verdade é que o corte nada mais é que a demonstração da falência do processo do planejamento atual.

O fato é que ao se instalar a geração onde não se pode escoar a energia, o mal planejamento provocou o aumento das tarifas de transmissão em mais de 60% acima da inflação, de 2007 até 2023. O custo barato de geração está embutindo um custo de transporte, que no longo prazo vai ficar insuportável, com resultado muito pior quando associado à intermitência das fontes solar e eólica.

Comprovação de que essas fontes não conseguem suprir o Sistema Interligado Nacional é facilmente verificado nos dados do Operador Nacional dos Sistemas Elétricos (ONS), em que nos dias que houve o curtailment, continuou havendo necessidade de geração termelétrica. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostra nos seus estudos que é essencial o fornecimento de 5.500 MW de potência em 2028, portanto, alinhado com o previsto no PL 576/2021. Sem térmicas a gás, teremos uma transição sem segurança e energia mais cara.

Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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