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Opinião | Federal Reserve: Resta saber qual será a orientação de Jerome Powell

Bancos centrais precisam ser independentes tanto dos governos quanto dos mercados

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Ouço, com frequência, que, devido à indecisão de Powell e à queda dos preços dos ativos, o Fed abandonaria o combate frontal à inflação, acomodando a política monetária. Quando Greenspan e Bernanke estiveram à frente do Fed, após um ciclo de elevação, decidiram baixar a taxa de juros, e a explicação predominante no mercado financeiro era de que estariam presenteando os investidores com um put, isto é, com a garantia de venda de suas ações a um dado preço. Powell seguiria este caminho.

Enfaticamente rejeito esse argumento. Em seu excelente livro (Central Banking in Theory and Practice, MIT Press, 1998), Alan Blinder nos convenceu de que não basta que os bancos centrais sejam politicamente independentes. Devem, também, ser independentes dos mercados. O respeito que tenho pelos trabalhos de Greenspan e Bernanke me obrigam a reconhecer que eram independentes dos mercados. Resta saber qual será a orientação de Powell.

Jerome Powell, do Federal Reserve; mensagem de Powell em entrevista à imprensa foi um desastre, mas ele não decide a política monetária sozinho.  Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

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A explicação para as reduções de juros realizadas por Greenspan e Bernanke não está na “garantia” que teria sido dada aos investidores, e sim na avaliação errada no combate à inflação. A explicação não é minha, mas de Athanasios Orphanides e John Williams, exposta no working paper do Fed publicado em 2004 (The Decline of Activist Stabilization Policies, 2004). Embora seja uma explicação para os erros cometidos nos anos 1960 e 1970, ajusta-se perfeitamente aos períodos mais recentes.

Tudo se inicia com uma política monetária estimulativa, que eleva a inflação, desancora as expectativas e, em seguida, sofre “choques de oferta” que reforçam a alta das inflações, corrente e esperadas. Tal movimento combinado com juros altos leva à estagflação. Exatamente o que pode ocorrer agora. Orphanides e Williams concluem que o corte de juros nos anos 1960 e 1970 veio da reação desnecessária do Fed à queda da atividade econômica. Nas suas palavras, “se a política monetária não tivesse reagido tão agressivamente ao hiato percebido do desemprego, as expectativas teriam permanecido ancoradas e a estagflação teria sido evitada”.

A mensagem de Powell na entrevista à imprensa foi um desastre. Mas ele não decide sozinho. John Williams preside o Fed de Nova York, onde são realizadas as operações de mercado aberto que determinam a taxa de juros, e ocupa a vice-presidência do Comitê Federal de Mercado Aberto, onde são tomadas as decisões – ele conhece a história dos sucessos e fracassos dos anos 1960 e 1970. Nas próximas semanas, começaremos a ouvir “mensagens” mais hawkish (austeras).

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Opinião por Affonso Celso Pastore

Ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C. Pastore e Associados

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