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Número de empresas de tecnologia em São Paulo cresce e chega a 340 mil; veja no mapa onde elas estão

Para especialistas, cidade tem oportunidades e capacidade para se tornar um hub tecnológico cada vez mais importante; desafio é o investimento na formação de mão de obra qualificada

Foto do author Wesley Gonsalves
Atualização:

Esta reportagem é parte da Agenda SP, conjunto de temas cruciais para o desenvolvimento da cidade de São Paulo. A Agenda SP estará presente em toda a cobertura do Estadão das eleições: reportagens, mapas explicativos, nos debates Estadão/ FAAP/ Terra, sabatinas com candidatos e no monitoramento semanal de buscas do cidadão paulistano

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Maior potência econômica do País - e da América Latina-, São Paulo se consolidou, ao longo das últimas décadas, como um polo tecnológico que recebeu enormes investimentos e se transformou na “casa” de diversas gigantes globais da inovação. Nos últimos 10 anos, o número de companhias ligadas à área tecnológica na capital paulista cresceu 60%, passando de 211 mil, em 2014, para 339 mil neste ano, segundo um levantamento da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo feito a pedido do Estadão.

Apesar do avanço em toda a capital paulista, a maior parte dos negócios ainda está concentrada nos mesmos endereços já conhecidos. De acordo com o levantamento da prefeitura, 21% dos CNPJs da cidade neste setor estão aglutinados em cinco distritos: Itaim Bibi, Bela Vista, Jardim Paulistano, Pinheiros e Vila Mariana.

Avenida Brigadeiro Faria Lima é o endereço de gigantes do mercado de tecnologia, como Google, Facebook, Amazon e Netflix, entre outras Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Este crescimento no número de empresas tem um reflexo importante nas contas da prefeitura. Segundo o levantamento, em dez anos, de 2013 a 2023, a arrecadação com as companhias do segmento de tecnologia teve um aumento de 470%. Se confirmadas as projeções do executivo local, em 2024, os cofres municipais podem arrecadar até R$ 6 bilhões com essas empresas de tecnologia, um crescimento de 17% em relação ao ano anterior. A projeção é que em 2024 o setor represente cerca de 20% da arrecadação de ISS do município de São Paulo.

Contudo, para aproveitar as próximas ondas de crescimento em inovação e tecnologia - especialmente os relacionados à inteligência artificial-, especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em apontar um gargalo que precisa ser superado: a educação. Para conseguir crescer em tecnologias mais refinadas e serviços mais sofisticados (como na área de saúde), o principal desafio é fomentar a formação de mão de obra qualificada. Além disso, também apontam necessidade de descentralização geográfica das empresas e maior desburocratização nos processos de abertura de novos negócios.

Precisamos garantir com que os jovens consigam navegar neste universo da tecnologia

Matheus Barcelos Martins, fundador do escritório Barcelos Martins Advogado e especialista em inovação

Para o presidente da Associação Brasileira de Corporate Venture Capital e Open Innovation (ABCVC), Leonardo Monte, o crescimento do mercado de tecnologia na capital paulista se deu por conta do boom do setor, mas também já refletiu uma simplificação para os investidores que buscam abrir uma companhia. Ele aponta que essa queda nas barreiras burocráticas fez com que diversas startups, por exemplo, fossem criadas no País e se instalassem na cidade. “Tivemos um boom de fintechs e investimentos de venture capital (capital de risco), se acelerou a digitalização, empresas que não eram nativas digitais e se digitalizaram”, diz.

Dados da plataforma Cortex apontaram, em 2023, a capital paulista como o município brasileiro com o maior número de startups no País (3,7 mil), resultado quase cinco vezes maior do que o segundo colocado no ranking, o Rio de Janeiro, e oito vezes superior à capital mineira, Belo Horizonte, que ocupa a terceira posição da lista.

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Outro ponto que explica o crescimento do segmento na capital está ligado a outro destaque da cidade: o mercado financeiro. Monte lembra que o sistema bancário brasileiro vem capitaneando o movimento de inovação no País e no mundo, o que permitiu que empresas de soluções tecnológicas fossem criadas para oferecer novos serviços no País. Como São Paulo é o “coração” do mercado financeiro nacional, a cidade se beneficiou do avanço econômico no setor. “Hoje o nosso mercado financeiro é muito mais digitalizado do que outros países do globo”, afirma.

De gigantes aos MEIs

De acordo com a prefeitura de São Paulo, o levantamento que aponta quase 340 mil empresas de tecnologia na cidade considerou todos os tipos de empresas abarcadas pelo segmento, desde gigante globais como Netflix, Amazon, Facebook, TikTok e Uber, passando pelas médias e pequenas empresas de softwares e desenvolvimento de programas e até os microempreendedores individuais (MEIs) que atuam no setor.

“Nos últimos anos a Prefeitura de São Paulo atuou para tornar a cidade mais atrativa para empresas de diversos setores, entre eles o de tecnologia. A simplificação nas alíquotas de ISS e a segurança jurídica para os empreendedores, entre outros fatores positivos da cidade, fizeram de São Paulo o destino para muitas empresas”, disse o secretário da Fazenda do município de São Paulo, Luis Felipe Arellano.


Novas ondas de crescimento

Monte, da ABCVC, acredita que a cidade ainda pode surfar novas ondas de expansão do setor de tecnologia no mercado. Entre as possibilidades, diz ele, estão as oportunidades em relação à Inteligência Artificial Generativa e também ao mercado de energias limpas, que pode atrair ainda mais investimentos para a capital paulista. “Não faltará capital para bons negócios”, avalia o executivo.

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Mas a formação de mão de obra é um desafio. “A educação é fundamental para qualquer projeto econômico. Especificamente no papel do município, eu acredito que a administração local precisa entender que estamos diante de uma mudança talvez nunca vista antes, estamos em vias de uma revolução que a educação nunca viu antes”, afirma Matheus Barcelos Martins, fundador do escritório Barcelos Martins Advogados e especialista em negócios de tecnologia.

Na avaliação dele, São Paulo terá como desafio prover formação tecnológica especializada e refinada, para as novas gerações conseguirem se adaptar às mudanças e se tornar uma mão de obra mais qualificada para as novas tecnologias. “Precisamos garantir que os jovens consigam navegar neste universo da tecnologia”, diz.

Dados do Google For Startups e da Associação Brasileira de Startups apontam para um déficit de mais de 530 mil profissionais para a área de inovação até 2025 no País. “Existe uma demanda reprimida. Nós não temos mão de obra qualificada suficiente para esses negócios de tecnologia hoje, nem para os que ainda virão. Precisamos formar profissionais técnicos que consigam se colocar rápido no mercado de trabalho”, complementa Martins.

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Líder de operações da Torq, divisão de inovação da Evertec+Sinqia, Thiago Iglesias vê no trabalho em conjunto entre a municipalidade, o setor privado e as universidades uma forma de vencer a barreira da mão de obra especializada. Ele ressalta o papel da Universidade de São Paulo (USP) como vetor de iniciativas para o segmento. “Esse é um gargalo, unir empresas e universidades na discussão. Isso traz mais força para ampliar os negócios”, afirma.

Investimentos para além da Faria Lima

Coração do mercado financeiro e de capitais do País, a Avenida Brigadeiro Faria Lima concentra hoje uma infinidade de companhias, que vão dos tradicionais bancos aos gigantes da tecnologia. Não à toa, segundo o levantamento da prefeitura de São Paulo, os distritos cortados pela via estão no topo do ranking de regiões com o maior número de negócios em inovação.

Na primeira posição, o Itaim Bibi é a região com maior número de negócios: 19.760 CNPJs cadastrados no segmento de inovação e tecnologia. Ainda no top 5 desse ranking estão os distritos da Bela Vista (15.602), Jardim Paulista (15.043), Pinheiros (12.270) e Vila Mariana (10.804). Juntas, essas cinco regiões concentram 21% dos negócios de tecnologia, ou um quinto de todas as empresas do setor dentre os 97 distritos que integram o levantamento.

Fora do centro e das áreas com o metro quadrado mais caro da cidade, os distritos da periferia da capital também têm seus negócios em tecnologia, mas em número bem menor. No fim da lista, o distrito com a menor quantidade de empresas de tecnologia é Marsilac, na zona sul da capital paulista, com sete negócios ligados à área de tecnologia.

Segundo o advogado Martins, dada a saturação do mercado imobiliário e os preços mais altos para locações de escritórios nas regiões mais centrais, outros negócios podem crescer margeando esses polos, chegando a novos pontos da capital. Porém, diz ele, esse movimento depende de infraestrutura para os negócios conseguirem se conectar ao centro financeiro. “Precisamos ter uma rede de suporte para quem não está no ‘miolo’, para quem não está ali no ‘condado’”, diz o advogado. “A cidade precisa conectar melhor os bairros dos arredores ao coração do mercado de capitais do País, que é a Faria Lima. Esse é um trabalho de formiguinha.”

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