Agrishow: governo federal pode ficar de fora de abertura por possível presença de Bolsonaro

Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro teria sido aconselhado a evitar eventual constrangimento, mas Agrishow nega; ida de ex-presidente não está confirmada

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O governo federal poderá ficar sem representantes na abertura da Agrishow, maior evento agrícola do País, devido a um mal-estar causado por um vaivém no convite feito ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para participar do evento.

Fontes próximas a Fávaro disseram ao Estadão/Broadcast que o presidente da feira, Francisco Maturro, telefonou ao ministro informando que o ex-presidente Jair Bolsonaro estaria na abertura do evento na companhia do governador do Estado, Tarcísio de Freitas, na próxima segunda-feira (1º). Ele teria sugerido a Fávaro que participasse da feira no dia seguinte para evitar eventual constrangimento. Inicialmente, o ministro havia sido convidado pela organização para a abertura, na segunda-feira.

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Com o alerta sobre a presença de Bolsonaro e a sugestão da possibilidade de ir em outro dia, o ministro optou por não participar da feira, decisão que deve ser seguida pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A feira realizada em Ribeirão Preto (SP) tem patrocínio do Banco do Brasil.

A reportagem apurou que estava previsto, na feira, o anúncio por Fávaro de R$ 1,030 bilhão em recursos suplementares para a equalização de crédito para o Plano Safra 2022/23. A verba vem sendo negociada pelo Ministério da Agricultura com o Ministério da Fazenda desde o início de março. Os recursos destinados à equalização devem gerar um montante extra de R$ 30 bilhões para a política de crédito agrícola que se estende até 30 de junho.

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Carlos Fávaro, atual ministro da agricultura do Governo Lula Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado

A assessoria do Ministério da Agricultura confirmou à reportagem que Fávaro não comparecerá à feira. Questionada pela reportagem, a assessoria da Agrishow afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já confirmou presença no evento.

O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, negou ao Estadão/Broadcast que tenha “desconvidado” Fávaro para a abertura da feira ou mesmo que tenha sugerido que ele participasse do evento no dia seguinte.

“Eu convidei o ministro para que ele permaneça em Ribeirão Preto no dia 2 de maio, quando terá uma reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Se ele quiser ficar lá (na feira) todos os dias, terá tapete vermelho”, afirmou Maturro. “Jamais cometeria a deselegância de desconvidar alguém”, reforçou.

Maturro disse ter feito contato por telefone com o ministro na terça-feira, 25, para avisá-lo que circula um folheto na região de Ribeirão afirmando que Bolsonaro estará na abertura oficial da feira. “Como sei que nem tudo chega ao gabinete do ministro, disse a ele que havia esse movimento”, afirmou. Apesar de fazer o alerta, o presidente da Agrishow reiterou que as autoridades se respeitam e que “não há hostilidade na Agrishow”.

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Segundo o presidente da Agrishow, o principal evento agrícola do País funciona como uma vitrine para o governo e a organização da feira ainda não foi informada oficialmente da decisão do ministro de não comparecer. “Eu espero que o ministro venha. Precisamos unir o País e reaproximar o agro do governo”, destacou.

Em nota à imprensa, a Agrishow reafirmou o convite feito a Fávaro para participar da abertura. A organização do evento afirmou que, para a direção do evento, “o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro”. “Sua participação na feira é muito importante para todo o setor”, diz o comunicado.

Ainda segundo a Agrishow, o ex-presidente Jair Bolsonaro não foi convidado oficialmente e não disse à organização se irá ao evento.

Reduto bolsonarista

Reduto eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda mantém fortes ligações com o setor, a previsão da sua presença no evento vem sendo amplamente divulgada no interior paulista. Nas redes sociais, circulam convites para apoiadores receberem Bolsonaro e Tarcísio no aeroporto Leite Lope,s no domingo, 30, às vésperas da feira.

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Tradicionalmente, em anos eleitorais, a feira recebia autoridades oficiais do governo na abertura e candidatos nos demais dias. No começo deste mês, quando questionado em coletiva de imprensa sobre a presença de autoridades, inclusive para articulação sobre crédito, a organização da feira mencionou a expectativa de presença do ministro da Agricultura ou do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Na ocasião, o presidente da Agrishow disse que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também havia sido convidado e seria “muito bem recebido”, caso pudesse ir à feira.

Perfil conciliador

Em nota publicada nas redes sociais, o Sindicato Rural do Ribeirão Preto (SRRP), a Associação Rural de Ribeirão Preto (ARRP) e a Associação Rural Vale do Rio Pardo (Assovale) condenaram o que chamaram de “narrativa mesquinha” referente à presença de Tarcísio e Bolsonaro no evento e ausência de Fávaro.

Segundo elas, a Agrishow e sua presidência têm um “perfil conciliador”. “SRRP, ARRP e Assovale rechaçam e condenam a narrativa trazida pela imprensa, fazendo votos de que todos os agentes mencionados estejam presentes na abertura da feira e atuem em sinergia para aplicações de boas políticas públicas”, afirmaram na nota.

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Um episódio semelhante ao da Agrishow ocorreu no Show Rural Coopavel, realizada pela cooperativa Coopavel, em Cascavel (PR), em fevereiro deste ano, a primeira do calendário de eventos agrícolas após a eleição do presidente Lula.

Fávaro foi convidado para participar do evento por lideranças cooperativistas nacionais e o convite foi, posteriormente, retirado por representantes da organização local que teriam “aconselhado” as lideranças nacionais sobre riscos de retaliação à participação do ministro no evento.

Na ocasião, o futuro secretário de Política Agrícola do ministério, ex-ministro Neri Geller, esteve na feira em uma agenda paralela à organização do evento, promovida pela indústria de máquinas agrícolas.

Nos bastidores, lideranças do setor produtivo repudiam a decisão da organização da Agrishow e alegam que houve descortesia e “politização” da feira ao privilegiar o ex-governo em detrimento do atual.

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Representantes de entidades do setor buscam ainda costurar um “entendimento” entre o ministério e a Agrishow para amenizar o mal-estar gerado. “Criou-se uma animosidade desnecessária para início de governo e para aproximação do setor com o novo Executivo”, resume uma fonte.

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