Grandes máquinas semeadoras já riscam o solo nos cerrados goiano e mato-grossense, nos campos do Paraná e no Vale do Paranapanema, no sudoeste paulista. Foi dada a largada para o plantio da soja, nas principais regiões produtoras do Norte, Nordeste e Centro-oeste do País. No sul o plantio começa em outubro.
Apesar das incertezas climáticas e da queda no preço internacional da commodity, a previsão é de mais uma grande safra que deve ajudar o Brasil a manter uma sucessão de recordes na produção de grãos. Sozinha, a soja representa cerca de 30% do faturamento do agronegócio brasileiro. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê aumento de 2,8% na área de plantio, chegando a 45,3 milhões de hectares, mesmo com os preços nacionais sob pressão de baixa e perda na rentabilidade. A produtividade média das lavouras tende a um acréscimo de 2,22%, devendo chegar a 3.586 quilos por hectare, com expectativa de produzir 162,43 milhões de toneladas, um novo recorde.
“A tendência de preços baixos está associada a um choque de oferta, estimando-se uma produção mundial para 2024 muito superior à demanda”, disse o gerente de Produtos Agropecuários da Conab, Sérgio Roberto Santos.
A queda na rentabilidade da soja, segundo ele, é compensada pela redução nos custos de produção, puxados por um recuo de 48% no preço dos fertilizantes. Se as previsões se confirmarem, a soja pode ajudar o País a colher mais uma safra histórica de grãos, próxima a 320 milhões de toneladas.
O gerente de Fibras e Alimentos Básicos da Conab, Gabriel Rabello, aponta para o risco climático. “Com a possível ocorrência de El Niño, pode haver redução de chuvas na região Nordeste e risco de precipitações em excesso no Sul do País, com impacto na produção.”
Clima
Para o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Antonio Galvan, o plantio do grão começa em um cenário de incertezas. “Trabalhar em um setor que funciona a céu aberto é sempre uma incógnita. As chuvas começaram mais cedo do que em outros anos, mas fala-se em corte de chuvas nos próximos dias. Temos locais em Mato Grosso em que deu até uma chuva boa, em que o pessoal está plantando, mas em outros não choveu nada. Colocar a soja no solo com baixa umidade é bastante arriscado.”
O representante dos produtores de soja lembra que os preços dos fertilizantes recuaram depois de terem experimentado grande alta no ano passado. “O problema é que o preço da soja também veio para trás e a margem de ganho ficou muito estreita. O produtor que paga arrendamento pela terra está inviabilizado.”
El Niño
No Paraná, os primeiros 6% dos 5,8 milhões de hectares que devem ser cultivados com soja nesta safra, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado, já estão com as sementes no solo. A previsão é de colher 21,9 milhões de toneladas ao final do ciclo, no início de 2024.
“O clima está favorável para o plantio e devemos ter um pequeno aumento na área da soja. Essa é a primeira leitura de um cenário possível, mas que pode se alterar quando a produção estiver toda a campo, pois estaremos sob o efeito do fenômeno do El Niño, com tendência de mais chuva que nos anos anteriores”, disse o chefe do Deral, Marcelo Garrido.
O El Niño é um evento climático resultante do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. Na região Sul do País, a tendência é de intensificação das chuvas, superiores às médias históricas. Desde junho de 2019, o Brasil não registra clima característico desse fenômeno. No ano passado as chuvas atrapalharam o início do plantio no Estado, mas neste ano estão na medida certa, segundo o analista Edmar Gervásio. “A safra anterior foi uma supersafra. Nesta, espera-se que voltemos a uma produção mediana”, disse. A previsão é de uma queda de 2%, saindo de 22,4 milhões para 21,9 milhões de toneladas.
Bom desempenho
Relatório da AGRural, consultora agrícola, apontou o ritmo lento da semeadura no Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso, onde os produtores estavam à espera de chuvas. Para o consultor Adriano Gomes, analista de mercado de grãos da AGRrural, a redução na safra americana já foi absorvida e precificada pelo mercado.
“Os olhares agora se voltam para a safra sul-americana, onde a previsão é de produção alta, tanto no Brasil, como na Argentina e no Paraguai. Estamos no período do El Niño, que costuma trazer boa produtividade no Sul, incluindo os países vizinhos. O mercado está reagindo a essa expectativa de grande produção, com queda de preço”, disse.
Ele apontou que em Sorriso (MT), a soja com entrega e pagamento imediato entrou o mês de setembro cotada a R$ 121 a saca e, na quarta-feira passada estava a R$ 117.
Com a previsão de que a China, principal compradora do Brasil, tende a importar cada vez menos soja, não dá para esperar uma reação dos preços em 2024, segundo o analista.
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