SOROCABA - O cubano Britaldo Hernandez, de 56 anos, veio para o Brasil pela primeira vez em 1998 para fazer um intercâmbio. Na época, ele trabalhava com o desenvolvimento de automação das indústrias de cana-de-açúcar e, além de conhecer as principais indústrias do setor estabelecidas aqui, considerava a possibilidade de fazer um doutorado em universidades brasileiras. O que seria uma estadia passageira tornou-se uma parceria definitiva. Menos de dez anos depois, com a criação da Solinftec em 2007, ele já tinha se tornado um agente de transformação do agro brasileiro.
Hernandez se diz 'incansável' quando se trata do tema inovação aplicada aos negócios. "Naquela época conheci a Cosan, atual Raízen, e a Clealco. Na visita às duas empresas, fui informado que, apesar de já haver no Brasil muita gente competente desenvolvendo tecnologias na parte industrial, ainda havia espaço para se criar algo novo na agricultura", disse. Os projetos nas lavouras começaram informalmente. O foco era monitorar as máquinas no campo fazendo uso da telemetria.
Por meio de observação na prática, ele foi propondo soluções para os desafios da rotina de gestão dos seus clientes de forma simples e tecnológica. Os primeiros feitos geraram reduções significativas de custos, além de promover o melhoramento da produção agrícola por meio da tecnologia, assegurando ainda a preservação do meio ambiente. A princípio, Britaldo enxergou nesse trabalho potencial para uma tese de doutorado. Seu orientador, na época diretor de mecanização da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq-USP), Tomaz Caetano Cannavam Ripoli, ao saber do contexto da tese, apontou que ele tinha ali a oportunidade de abrir uma empresa.
Foi após refletir sobre a oportunidade indicada por seu orientador de mestrado que Britaldo e mais seis colegas cubanos conversaram sobre a possibilidade da criação de uma empresa de tecnologia. A Solinftec foi fundada por esse grupo de engenheiros. De 2008 a 2010, Britaldo administrou a empresa à distância, em Cuba, até conseguir deixar seu país e voltar para o Brasil. O CEO da Solinftec lembra que a empresa foi crescendo sem capital até 2016. Mais tarde veio o interesse do mercado e a startup ganhou sócios. "Na Solinftec não se faz nada que não seja útil para o produtor e para que as pessoas sejam felizes no seu dia a dia", observou.
O cubano trouxe também uma bagagem de conhecimentos em sua mudança para o Brasil. Formado em Engenharia de Controle Automático pelo Instituto Tecnológico Superior Jose Antonio Echeverria (ISPJAE), de Havana, ele trabalhou por mais de uma década e meia no Centro Nacional para la Producción de Animales de Laboratorio (CenpaLab), onde iniciou a carreira como estagiário. Depois passou pelos cargos de engenheiro de programação de microcontroladores, vice-diretor de tecnologia até chegar a vice-diretor geral. Foi considerado um dos 100 cientistas mais relevantes e influentes de Cuba. "Nosso propósito é desenvolver tecnologia sustentável para, de fato, ajudar a alimentar o mundo, com menos impacto no ambiente", afirmou.
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