Grupo Safras pede recuperação judicial para reestruturar R$ 2,2 bilhões em dívidas

Advogados argumentam que o conglomerado do agronegócio enfrenta dificuldades financeiras desde 2023, após uma queda acentuada nos preços da soja; pedido foi encaminhado em Sinop (MT)

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Por Gabriel Azevedo (Broadcast)
Atualização:

O Grupo Safras protocolou nesta sexta-feira, 4, pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Cível de Sinop (MT), com objetivo de reestruturar um passivo estimado em R$ 2,2 bilhões. A solicitação abrange 40 empresas e produtores rurais organizados nos núcleos empresariais liderados por Pedro de Moraes Filho e Dilceu Rossato, ex-prefeito de Sorriso (MT). O caso será analisado pela juíza Giovana Pasqual de Melo.

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O pedido foi apresentado após a rejeição, em março, de um pedido de medida cautelar para evitar a reintegração de posse de uma planta industrial de soja em Cuiabá. Na decisão, a magistrada deu prazo de 15 dias para que as empresas formalizassem o pedido de recuperação judicial, o que foi feito agora em litisconsórcio ativo.

Segundo a petição, cada devedor mantém ativos, passivos e operações comerciais próprias, mas o processamento conjunto seria uma forma de “economia processual” e “aumento de eficiência da gestão da superação da crise”.

No documento, os advogados argumentam que o Grupo Safras enfrenta dificuldades financeiras desde 2023, após uma queda acentuada nos preços da soja. “A oscilação do preço da soja, em especial a queda exponencial no primeiro semestre/2023, represou as ordens de venda do grão estocado nos armazéns”, afirmaram. Ainda segundo a petição, as vendas ficaram em “cerca de 40% da produção estimada”.

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A crise teria se agravado com a aquisição da Copagri, rebatizada como Safras Agroindústria, operação que teria envolvido a “absorção de um passivo relevante de mais de meio bilhão de reais” e investimentos para retomar o funcionamento da planta industrial.

O grupo menciona ainda “altos investimentos em capex da usina de etanol de milho e na esmagadora de soja sem a utilização de project finance” como fatores que comprometeram o caixa.

O pedido foi apresentado após uma tentativa de evitar a reintegração de posse de uma planta industrial de soja em Cuiabá Foto: Alex Silva/Estadão

Segundo os autores, a falência da consultoria contratada para implantação do sistema SAP, no fim de 2023, também impactou as operações. “Gerou significativos prejuízos para a operação e contabilidade das requerentes”, diz a petição.

O grupo afirma que sofreu bloqueio de aproximadamente R$ 5 milhões em créditos a receber e uma ordem de arresto de grãos no valor de R$ 11,5 milhões. Também foram citadas notificações de desocupação de armazéns arrendados. Os advogados afirmam que “esses são apenas alguns dos fatores que colocaram os requerentes em um contexto de crise”.

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Na petição, o Grupo Safras solicita a antecipação dos efeitos do stay period e pede que a planta industrial de Cuiabá seja declarada essencial. “A retirada da planta industrial da legítima posse do Safras representa severo e concreto risco de solução de continuidade de um dos braços de operação do grupo”, afirmaram. A estrutura tem capacidade de esmagamento de 1,7 mil toneladas de soja por dia, recebe 50 caminhões e emprega mais de 180 trabalhadores.

A empresa relata que deixou de receber grãos de terceiros durante a safra atual para evitar riscos jurídicos sobre esses volumes. “Durante o período de colheita da soja, o grupo foi procurado por diversos produtores interessados na armazenagem do grão, mas, por precaução, decidiu não receber as cargas, evitando assim colocar novos ativos em risco diante das ameaças de protestos e penhoras.”

Apesar da crise, os autores sustentam que “não há dúvidas da viabilidade e potencial tanto do Núcleo Safras como do Núcleo Rossato” e afirmam que “com os remédios corretos, como este pedido de recuperação judicial, haverá o fôlego necessário à reestruturação do fluxo de caixa, das despesas e estratégias de operação e, por fim, o salutar soerguimento individualizado de cada um dos núcleos”.

O processo foi assinado pelos advogados Elias Mubarak Junior e Daniel Carnio. Com o pedido, o grupo se junta a outras empresas do setor agroindustrial que entraram em recuperação judicial nos últimos meses, como AgroGalaxy e Portal Agro.

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