Para quem está na ponta da cadeia do agronegócio, as mudanças climáticas já são uma realidade. O que leva ao passo seguinte. É preciso desenvolver e certificar metodologias escaláveis para a mensuração do carbono no solo e modelos matemáticos que possam estimar o estoque em solos tropicais a partir da implementação ou intensificação de práticas de manejo, tais como: plantio direto, rotação de cultura, plantio de cobertura e melhor uso dos insumos agrícolas nas operações.
O produtor brasileiro já adota práticas conservacionistas como o plantio direto há décadas, mas ainda assim é possível implementar um manejo ainda mais sustentável para produzir, na mesma área, ao mesmo tempo que se sequestra mais carbono em solo. “Quando falamos de descarbonização de cadeias, precisamos começar pela base, que na verdade é o cerne de nossa proposta lá atrás. Uma das grandes belezas do agro é que ele é um setor que emite, mas que tem um enorme potencial de sequestro. Um solo com maior estoque de Carbono é um solo mais saudável e produtivo”, afirma Fábio Passos, diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina.
Em plena pandemia, em 2020, a empresa de origem alemã e vários parceiros lançaram o programa PRO Carbono, presente em 10 países e que já reúne mais de 5 mil produtores. De acordo com o executivo da Bayer, no caso do Brasil, uma das grandes missões é desenvolver um modelo para estimarmos quanto de carbono está sendo retido no solo. “É uma modelagem desenvolvida para as nossas características de solos tropicais. Não estamos importando algo que foi criado para países com o clima e perfil de solo como os da Europa e Estados Unidos”, explica Passos.
“Entre os nossos parceiros, temos a Embrapa e instituições de pesquisa como a USP e a Unesp.” Segundo o executivo, hoje, existem 2 mil produtores envolvidos com a iniciativa apenas no Brasil, o que corresponde a uma área de 220 mil hectares. “Apenas no último ano foram mais de 300 mil análises de solo feitas no âmbito do programa para que a gente avance em uma certificação para medir carbono em solo que seja economicamente viável e para que possamos estimar o sequestro de carbono em solos tropicais”, diz Passos.
“Eu me apaixonei pelo projeto desde que fomos convidados pela Bayer. Algumas mudanças de comportamento já existem no meio da produção agrícola, mas precisamos aumentar. Depois dessa parceria, estamos produzindo mais, no mesmo ambiente, e com mais valor agregado”, afirma Maira Lelis, produtora da Fazenda Santa Helena, no interior de São Paulo.
Por conta das práticas sustentáveis estimuladas pelo programa, explica a agricultora, não existe mais solo descoberto na Santa Helena, em nenhuma época do ano. “Sempre tem uma adubação verde, com uma planta de cobertura ou tem a nossa terceira safra, como chamamos, cuidando do nosso solo”, diz Lelis.
Na Fazenda Santa Helena, de sucessão familiar, a produção agrícola se estende por mais de quatro décadas. “O solo é cultivado anualmente. Podemos produzir e cuidar dele. O maior patrimônio que nós temos é o nosso solo. Por isso que essa mudança de pensamento serve para o grande e o pequeno produtor. É para todo mundo”, ratifica a agricultora paulista.
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