Tecnologia de dados melhora sustentabilidade ambiental e aumenta produtividade do agronegócio

Empresas do setor usam desde imagens de satélite até a temperatura das folhas das plantas para fazer medições de contribuir, por exemplo, para redução no uso de insumos

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A tecnologia avança no agronegócio e, com ela, a capacidade de utilização de dados para garantir maiores produtividade, rentabilidade e, principalmente, sustentabilidade ambiental. Seja monitorando lavouras a partir da atmosfera, por meio de imagens de satélite, ou literalmente ao pé da planta e no solo, além do clima, empresas de tecnologia apresentam soluções inovadoras, práticas e eficazes para o produtor. As medidas trazem economia na aplicação de insumos, otimização do uso desses mesmos insumos ou a garantia de que os frutos da colheita respeitam regras socioambientais, entre inúmeras outras aplicações, que podem, inclusive, ser customizadas.

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De Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, por exemplo, vem a Prediza, startup acelerada pelo Grupo Piccin, fabricante de máquinas e implementos agrícolas sediada em São Carlos (SP). A solução desenvolvida pela empresa se baseia na instalação de estações em pontos estratégicos de lavouras, equipamentos que monitoram as condições atmosféricas, a temperatura ambiente, a temperatura do solo e até das folhas das plantas, os níveis de umidade, a incidência de pragas e doenças desde o seu início, inclusive o risco de elas surgirem para que se possam tomar atitudes preventivas – e mais econômicas.

Conforme explica ao Estadão o head de Marketing do Grupo Piccin, Marco Gobesso, a ideia de monitorar tudo com tantos detalhes no nível da lavoura reside no conceito de que é necessário prever eventuais contratempos “antes que eles aconteçam”. “Imagens de satélite ou de drones, por exemplo, que são amplamente utilizadas para detectar a incidência de pragas nas lavouras, têm um propósito importante, mas ao mesmo tempo revelam um problema quando ele já aconteceu ou está acontecendo, provavelmente em larga escala”, diz Gobesso.

Ele acrescenta que exatamente por isso nem sempre o produtor tem condições de tomar alguma atitude em tempo hábil para evitar prejuízos. “Então, nossa proposta é trabalhar com o maior volume possível de dados para prevenir que a praga se instale na lavoura e provoque prejuízos às plantas e gastos extras com defensivos.”

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Soluções têm o objetivo de dar mais produtividade para o produtor Foto: FILIPE ARAUJO / AE

Em termos práticos, o executivo conta que um grande produtor de citros do interior paulista, que utiliza a ferramenta da Prediza, conseguiu “prever” com 15 dias de antecedência que haveria maior incidência do inseto psilídeo nos pomares – o inseto é o vetor de transmissão do greening, a doença mais grave da citricultura e que leva à erradicação das plantas contaminadas.

“Fazemos a previsão de que o sintoma do greening ocorrerá (após a contaminação pelo psilídeo), orientando a melhor estratégia de controle a partir da prevenção, e não somente quando a infestação já está ocorrendo”, descreve. Isso permite, segundo Gobesso, pulverizar o pomar de forma certeira e, inclusive, com menor frequência do que o usualmente recomendado para esta praga.

Nessa lavoura de citros, havia uma área com tratamento convencional, que serviu como comparação. “A área seguiu as recomendações usuais e necessitou de quatro aplicações de inseticidas, enquanto a nossa área, tratada e monitorada com a ferramenta Prediza, necessitou apenas de duas aplicações, orientadas pelo arcabouço de dados climáticos, de nível de incidência do inseto e temperatura da planta, entre muitos outras informações cruzadas e analisadas por meio da ferramenta”, descreve.

“Estamos um passo além do Manejo Integrado de Pragas (MIP)”, prossegue Gobesso. Ele se refere à tecnologia criada pela Embrapa e que preconiza a aplicação de defensivos na lavoura de acordo com o nível de incidência de pragas ou doenças. Quando o prejuízo que a praga pode desencadear for menor do que os gastos do produtor com a operação de aplicação, opta-se por não fazê-la.

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Segundo o CEO do Grupo Piccin, Camilo Ramos, a tecnologia das estações de monitoramento da Prediza já está em uso nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Maranhão e em fase de testes também na Argentina. “No Rio Grande do Sul, uma das primeiras entregas que fizemos foi a previsão de geada”, afirma Ramos.

“Atingimos um nível extremamente confiável no monitoramento e conseguimos prever se vai ocorrer geada com até seis horas de antecedência”, acrescenta. “Ele pode monitorar tudo o que está acontecendo nas lavouras, a partir dos dados transmitidos pelas estações instaladas na propriedade, diretamente de sua casa, e, se for o caso, acionar a aspersão de água nas plantas para evitar o congelamento, sem necessidade de estar presente no campo.”

Outra empresa que começou como startup e também compila e analisa milhares de dados para garantir um uso mais eficaz de defensivos e adubos nas lavouras é a Perfect Flight, com sede em São João da Boa Vista (SP). Segundo o diretor de Operações, Leonardo Luvezuti, a companhia começou como startup em 2016, para tentar solucionar uma demanda de um agricultor que precisava monitorar a pulverização aérea de suas lavouras.

Imagens de satélite ou de dronessão usadas para detectar a incidência de pragas nas lavouras Foto: ESTADAO CONTEUDO / ESTADAO CONTEUDO

“A pulverização de defensivos em grãos e fibras, atualmente, representa cerca de 30% ou mais do custo de produção e a última coisa que o produtor busca é desperdício”, comenta o executivo. Ele afirma que, inicialmente, a Perfec Flight monitorava apenas a aplicação aérea de defensivos, que deve levar em conta inúmeros fatores, como dosagem, clima, direção dos ventos, melhor hora para aplicação, risco de deriva (ou seja, que o produto seja levado pelo vento e depositado em outro local que não a lavoura-alvo), e, claro, a necessidade ou não de se aplicar o defensivo – seja ele químico ou biológico –, a depender do nível de incidência das pragas ou doenças.

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“Por meio da gestão de inúmeros dados e fatores, sejam imagens de satélite, medições meteorológicas, tipo de pragas e produto, alcançamos uma assertividade na aplicação e minimizar os impactos ao meio ambiente”, diz Luvezuti. “Conseguimos com que cada gota de defensivo seja aplicada no momento e no lugar corretos, eliminando o desperdício.”

Atualmente, a Perfect Flight atua em 10 milhões de hectares de lavouras em 20 Estados brasileiros, cobrindo algodão, soja e milho, além de cana-de-açúcar, citros, florestas, pastagens e arroz. “Atuamos também em Honduras e na Argentina, e nos Estados Unidos.”

Em dez anos de trabalhos, Luvezuti diz que inúmeras variáveis foram computadas. “São realmente muitas variáveis, que partem de pelo menos oito indicadores e possibilidades de ocorrência”, afirma. “Ao longo desses anos todos temos um acúmulo de dados que vêm sendo gerados, a partir dos quais é possível criar modelagens para ajudar o agricultor nas tomadas de decisão.”

Brincavam com a gente, falando que erámos ‘lixeiro’ de dados

Sergio Rocha, CEO e fundador da Agrotools

Se algumas empresas atuam prioritariamente no rés do chão, outras têm como matéria-prima primordial imagens de satélite. É o caso da Agrotools, que se orgulha de, em 20 anos de existência, reunir o maior banco de dados extraídos do campo brasileiro via imagens de satélite. Segundo o CEO e fundador da Agrotools, Sergio Rocha, a bigtech usa “muitas fusões de dados”. E prossegue: “Começamos há quase duas décadas, quando o acesso a dados era muito raro e custoso, desde aqueles de satélite até os obtidos no nível do campo”.

Ele acrescenta que, mesmo que naquela época ainda fosse difícil o cruzamento de dados para tomar decisões, a Agrotools os “colecionava”. “Brincavam com a gente, falando que a gente era ‘lixeiro’ de dados”, diverte-se Rocha.

Sergio Rocha, fundador e CEO da Agrotools, uma das maiore agritechs brasileiras Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Foi algo visionário, porém. Hoje, a Agrotools se define hoje como “o maior ecossistema de soluções digitais baseadas em uma plataforma de inteligência de dados para o agronegócio corporativo do mundo”. Entre as ferramentas nas quais se considera pioneira, está a utilização de sensoriamento remoto voltado para o agro, inteligência artificial, blockchain e APIs.

“Temos tecnologia própria para entregar soluções digitais que analisam mais de 1.300 camadas de dados de múltiplas fontes, com o objetivo de democratizar o acesso à informação no setor, sendo um pilar de eficiência, gestão de riscos e compliance ESG em qualquer operação no campo”, afirma Rocha.

Os serviços da Agrotools são utilizados, na prática, por instituições bancárias, fundos de investimento, tradings de grãos, empresas de proteína animal, pequenos, médios e grandes produtores, para que se confirme, por exemplo, por meio de imagens de satélite e de inúmeros outros cruzamentos de dados, a conformidade de fornecedores em relação a práticas ESG – que respeitam o meio ambiente, o social e a governança, além de legislações trabalhistas.

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“A Agrotools fornece, há 15 anos, soluções de monitoramento de desmatamento a bancos, tradings e frigoríficos, com dados que orientam os negócios desses setores, como concessão de crédito de baixo risco socioambiental”, exemplifica o CEO da bigtech. “Hoje, a Agrotools analisa mais de 4,5 milhões de territórios rurais e monitora R$ 15 bilhões em commodities”, diz. “Além disso, são mais de R$ 50 bilhões em financiamento rural que contam com o suporte de ao menos uma das soluções da empresa, e cerca de R$ 100 bilhões em operações do agronegócio monitoradas.”

Recuperação de áreas de pecuaristas

Agora, mais recentemente, firmou parceria com o Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac) para auxiliar pequenos pecuaristas a se regularizarem ambientalmente e voltarem ao mercado formal de fornecimento de bovinos de corte. Segundo Rocha, pelo menos 30 pecuaristas aderiram à Plataforma Reconecta, desenvolvida pela Agrotools, dentro do Programa de Reinserção e Monitoramento (Prem) de áreas, criado pelo Imac. “A Agrotools entra monitorando, via satélite, a recuperação de áreas de pecuaristas que aderiram ao Prem”, cita Rocha.

“O que fazemos é misturar todos os dados que coletamos em uma escala gigante para poder dar insights às corporações que atuam no agro. Vemos, por exemplo, se aquele local onde determinada cultura foi plantada é adequado e se o produtor que quer contrair o empréstimo terá possibilidade de êxito”, comenta Rocha.

“Além disso, toda a cadeia fora da porteira também poderá ter a confirmação da adequação do produtor ou não, mantendo-o como fornecedor confiável ou não.” Com essa linha de trabalho, a Agrotools já realizou, segundo o CEO, pelo menos 30 milhões de análises socioambientais de dois anos para cá – “Sejam as ligadas às agendas de crédito ou à compra de insumos”, diz.

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Com o monitoramento da cadeia como um todo, um setor que era considerado uma “agenda de problemas” passou a utilizar a sua conformidade socioambiental, confirmada pela Agrotools, como uma “ferramenta de marketing”, diz Rocha. “Porque quando eu tenho a constatação praticamente instantânea de que aquele fornecedor vai estar limpo para a minha cadeia de supply chain, quero mostrar isso pra todo mundo”, finaliza.

Summit Agro 2023

Tecnologia aplicada à produção agropecuária será um dos temas discutidos no Summit Agro 2023, organizado pelo Estadão e que terá como tema “A nova revolução verde – do alimento à energia, o potencial do Brasil para ser superpotência”.

O evento ocorre nesta quarta-feira, 8, no Auditório do Masp, em São Paulo, e contará com a participação de renomados nomes do agronegócio. As palestras também poderão ser acompanhadas pelas redes do Estadão e pela página oficial. Acesse o site (https://summitagro.estadao.com.br/sobre-o-evento/) para mais informações.

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