No dia 30 de outubro, no segundo turno, o Brasil vai escolher seu presidente pelos próximos quatro anos.
Restam agora apenas dois candidatos, o atual presidente, Bolsonaro, e o ex-presidente Lula. Ambos chegaram à liderança bem antes da realização do primeiro turno, no início do mês.
Subsequentemente, ambos se dedicaram continuamente a suas campanhas na busca pela vitória. Mas nenhum dos dois candidatos apresentou até agora um programa econômico coerente para alcançar seus objetivos.
A simples promessa de continuidade de Bolsonaro obteve uma parcela dos votos maior do que a prevista e, com ela, um grande número de seguidores no congresso. O PT de Lula e seus partidos aliados ficaram logo atrás. Daí o título do presente texto: haverá uma aceitação conjunta da contagem eleitoral, sem apelos por uma intervenção imediata dos militares, independentemente da contagem anunciada? Os Estados Unidos vivenciaram um debate contínuo nesse sentido que ainda afeta políticas muito necessárias passados dois anos após a clara vitória de Biden.
O presidente eleito do Brasil deve avançar no rumo de melhores ganhos salariais, auxiliados por uma reforma educacional nos níveis fundamental e médio, resultando em ganhos de produtividade. São necessárias menor dependência na tributação indireta de todo o tipo e uma tabela mais progressiva para a cobrança do imposto de renda. O crescimento comercial deve continuar, mantendo-se o investimento estrangeiro que garantir acesso às mudanças tecnológicas internacionais e também um movimento progressivo rumo à manufatura doméstica como resultado da incorporação do investimento conjunto do estado, do setor privado e do estrangeiro. O avanço ambiental, com políticas adequadas para os povos indígenas, é outra área em que muito pouco foi feito para reforçar a liderança do Brasil e a presença internacional do país conforme a questão do aquecimento global se intensifica.
Este programa deve ser buscado gradualmente com o tempo. O imediatismo vai gerar um desequilíbrio em um mundo externo em que a recessão estará presente em muitas economias. Os efeitos do desastre na Ucrânia são uma questão séria, com efeitos multiplicativos em outras regiões. Dessa vez, o efeito positivo da globalização é mais fraco. A tentativa de incorporar objetivos demais, rápido demais, pode gerar declínio em vez de avanço, como o próprio Brasil testemunhou na década passada.
O Brasil mudou profundamente ao longo das muitas décadas de minhas visitas regulares ao país. Então, nos anos 1960, o exército tinha acabado de intervir, substituindo o presidente Goulart por Castelo
Branco. Vim pela primeira vez em 1965, pouco antes de Castelo Branco intervir com um expurgo do congresso, comprometendo-se com uma política mais ativa. Então vieram Costa e Silva e Médici e a triste ascensão do poder militar para combater a resistência dos guerrilheiros. Somente anos mais tarde o exército começaria um lento processo de retirada.
É grande a frustração no mundo hoje. Esquerda e direita conseguiram endurecer suas posições em muitas circunstâncias. As concessões mútuas não são mais uma solução aceitável.
Votar deixou de parecer uma forma de garantir processos verdadeiramente democráticos. O acesso à informação de todo o tipo se encontra prontamente disponível. É difícil distinguir entre verdade e ficção e, muitas vezes, as fontes são desconhecidas. Não surpreende mais quando “lideranças” políticas vão parar na prisão.
Além das bruxas que aparecem no Halloween do dia de todos os santos, acabo de ficar sabendo de uma alternativa verdadeiramente brasileira, o Saci de uma perna só, um espírito travesso que, em algumas versões, concedia presentes às boas crianças. Espero que o escolhido seja Lula, retornando à presidência. Mas ele terá que fazê-lo enquanto escolhe seus ministros. No setor econômico, há candidatos fora do PT que podem fazer toda a diferença.
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