O mundo no último mês merece que as pessoas tentem esquecê-lo. Levará um longo tempo. De conflitos pré-existentes, como na Ucrânia, maiores restrições dentro do Irã, a liberdades tolhidas na Abissínia e em outras partes da África, sem mencionar controles crescentes dentro da França, da Alemanha e dos Estados Unidos.
Mas o ataque dos invasores do Hamas oriundos de Gaza contra os israelenses perpetrado em áreas próximas à fronteira em 7 de outubro é de um tipo diferente. As mortes violentas, que excederam mil, incluindo crianças e mais de 200 indivíduos capturados, com alguns poucos libertados, não puderam deixar de recordar os horrores do histórico Holocausto levado a cabo nos anos 40 pelos nazistas. O Hamas foi projetado para pôr fim à existência de Israel. Não há simpatia por seus atuais moradores.
Na subsequente invasão israelense a Gaza, mortes de mulheres e crianças ocorreram em grandes números, ocasionando críticas generalizadas de líderes das Nações Unidas e dos muitos grupos de caridade respeitáveis envolvidos em Gaza.
Líderes de países árabes e grupos palestinos em todo o mundo endossaram chamados pela paz imediata. Nos EUA, universidades foram forçadas a fechar temporariamente para conter conflitos entre estudantes, assim como invasores. Pensamentos foram minimizados, e emoções, exacerbadas.
O primeiro-ministro Netanyahu afirmou seu compromisso de pôr fim ao Hamas e permanecer não apenas até esse objetivo ser alcançado, mas por mais tempo, para assegurar sua extinção. Supõe-se que haja 500 quilômetros de túneis subterrâneos em Gaza.
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Ironicamente, nos meses recentes ocorreram conversas entre Israel e Arábia Saudita sobre relações mais próximas. Uma premissa era a retomada da negociações há muito adormecidas com a Autoridade Palestina por uma solução de dois Estados. Os EUA pareceram bastante favoravelmente dispostos a um acordo desse tipo.
Num artigo recente, publicado no jornal The Hill em 27 de outubro, Abraham Sofaer discorre sobre essa possibilidade. Mas trata-se certamente de um sonho que requer anos e anos de negociações e reveses desafortunados. Não há nenhum milagre de acordo imediato sobre distribuição de território e autoridade prestes a ocorrer.
O delongado governo de Netanyahu ocasionou perturbações internas generalizadas em Israel e anexação de território. A Suprema Corte esteve sob ataque, teve sua capacidade de tomar decisões restringida. Manifestações da oposição israelense ocorreram semanalmente. Do outro lado, a direita israelense contempla há muito novas oportunidades para expansões e fortificações de defesas.
O cenário se deteriorou ainda mais com reações na fronteira norte de Israel — afortunadamente em magnitude muito menor. Ambos os lados parecem ávidos para evitar uma deterioração massiva nas presentes circunstâncias.
A maioria dos palestinos quer mais assistência para levar uma vida normal, em vez do cotidiano manipulado que experimenta hoje. Suas famílias recordam-se da guerra inicial, de 1948, que ocasionou seu exílio. Os israelenses, por outro lado, continuam a temer a impossibilidade das relações civis.
Lula agora preside o Grupo dos 20. Sua próxima reunião está marcada para o outono de 2024. Ele já busca participar ativamente. Ele pediu o término imediato e total da intervenção israelense em Gaza. Isso não acontecerá, e ele não desempenhará nenhum papel de liderança nessa negociação. Nem outros países do Brics. Mas ele será uma presença importante no tema ambiental em 2025.
Desta vez, o único caminho adiante é por meio de negociações diretas entre israelenses e palestinos. O processo de Oslo deve ser reiniciado, desta vez com um desfecho muito melhor para o benefício de ambas as nações no futuro. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
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