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Cientista político e economista

Opinião | Regras sem compromisso

O presidente Lula é um nacionalista, comprometido com os subsídios para a indústria

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A reunião crucial que definirá as próximas regras para sustentar a estabilidade macroeconômica do Brasil durante o governo Lula ocorreu na tarde de sexta-feira, 17. O ministro Fernando Haddad mostrou ao presidente os resultados de seu intenso trabalho montando um esquema para garantir baixas taxas de inflação no futuro, sem restrições a um crescimento econômico mais rápido e contínuo.

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Não houve comentários após a reunião. Mas houve outras notícias relevantes do Ministério da Fazenda. Novas estimativas econômicas para 2023 e 2024 foram apresentadas. A previsão de inflação de 4,6% para 5,3% este ano, mas caiu drasticamente para 3,5% em 2024. O crescimento do PIB caiu de 2,1% para 1,6% este ano, ainda bem acima da maioria das estimativas do mercado. Em 2024, haveria aceleração para 2,4% e, a partir daí, uma variação entre 2,4% e 2,8%.

Todos esses resultados ainda são muito melhores do que as projeções atuais do boletim Focus, do Banco Central. Lá, a projeção de inflação permanece mais alta, não atingindo 3,8% até 2026. O crescimento do PIB é menor, 0,85% em 2023, atingindo um máximo de 2% em 2026. Essas projeções também mostram a dívida líquida aumentando posteriormente, em vez de encolher.

Claramente, o melhor dos melhores foi selecionado e colocado nas mãos de Lula para que ele tome uma decisão antes da reunião do Copom que vai determinar os rumos da taxa Selic. Para Haddad, é hora de partir para outras questões domésticas urgentes.

Para Lula, a próxima longa visita à China é o que conta. Há, aparentemente, algo como trinta acordos a serem assinados, e uma grande multidão de empresários brasileiros tem buscado a inclusão na viagem. Há esperança de um relacionamento muito mais próximo no futuro. Xi Jinping está encantado, num momento em que trava uma luta substancial com os Estados Unidos. Os temas a serem discutidos incluem “comércio, investimento, reindustrialização, mudança climática e paz e segurança mundiais”.

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Para Lula, a próxima longa visita à China é o que conta  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Esses assuntos são realmente o foco de Lula. Ele deseja nesta viagem renovar a reputação do Brasil (e a sua) de grande líder mundial. A política externa brasileira é uma decisão dele. A economia doméstica é realmente um assunto para os outros. Ele claramente quer que o Brasil cresça como fez em seu último mandato como presidente. É um nacionalista, comprometido com os subsídios para a indústria, e só recentemente converteu os problemas das mudanças climáticas em um dos grandes objetivos brasileiros.

Acima de tudo, ele se ressente de seu período na prisão, atribuindo-o a um sistema judicial defeituoso e à incapacidade de compreender a importância da intervenção do Estado para permitir o crescimento econômico e vantagens especiais para os pobres.

Vejamos o que acontece com a nova política macroeconômica montada por Haddad. Creio que vá ser aprovada, mas tudo pode depender muito de o Banco Central se comprometer com uma queda dos juros na reunião desta semana. Com a crescente incerteza no sistema financeiro internacional, as dificuldades na França e o contínuo problema da migração, dificilmente este seria o momento para voltar a uma política que funcionou anteriormente apenas por causa dos termos comerciais internacionais favoráveis.

O Brasil tem um grande grupo de economistas talentosos. Só precisa de uma estratégia melhor.

Opinião por Albert Fishlow

Economista e cientista político, professor emérito nas universidades de Columbia e da Califórnia em Berkeley

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