Eu tinha razão de estar preocupado no mês passado. Não tinha certeza, mas parecia que tudo poderia mudar positivamente com Kamala Harris. Agora, porém, o presidente eleito Donald Trump mostra que provavelmente será muito pior desta vez. Seu gabinete em formação é uma piada trágica para lidar com as necessidades complicadas do mundo - e dos Estados Unidos. É claro que o déficit dos EUA vai começar a aumentar novamente, assim como já aconteceu. Nenhum homem rico quer pagar impostos mais altos. Novos e grandes esforços para aumentar a eficiência renderão pouco.
Trump conseguiu reunir - até o momento - um grupo de candidatos a ministros que provaram ter muitos defeitos. Temos pessoas como um secretário de Saúde empenhado em eliminar as vacinas. A encarregada de todas as atividades de inteligência não tem experiência nesse campo. O chefe do Departamento de Defesa é alguém contra o avanço das mulheres e que tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o funcionamento do Pentágono e das Forças Armadas atuais.
Em questões relacionadas às mudanças climáticas que estão por vir, ele está pronto para produzir uma poluição maciça que preocupa até mesmo seu fiel aliado Elon Musk. Mas o melhor de tudo é que ele escolheu o pior dos piores republicanos de direita, Matt Gaetz, como seu novo procurador-geral.
Todas as nomeações estão previstas para terem aprovação imediata. A atual minoria republicana no Senado deve aceitar as indicações sem oposição. Porém, já existem fortes negativas vindas de vários senadores. Trump não gosta muito do Congresso, embora os republicanos gostem.
As relações exteriores não foram uma questão central na eleição. Apenas 4% dos eleitores se preocuparam muito com elas. Nessa questão, exceto sobre Israel, Trump não está preparado para entrar ativamente. Com relação a Israel, ele tem sido próximo do primeiro-ministro Bibi Netanyahu. O próximo Secretário de Estado, Marco Rubio, ele próprio latino-americano, deixou claro que qualquer acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia deve ser rápido e continuar assim por um longo tempo. Mas as relações com a OTAN, a Turquia, a China, a Índia, o Japão, a Austrália, Taiwan e a América Latina exigirão muitos novos embaixadores, além de grandes revisões no Departamento de Estado.
Leia também
A história não termina aí. Trump terá dificuldade em apoiar Israel, que tem sido bastante ativo no ataque ao Hezbollah no Líbano e que, aparentemente, continuará com seus esforços de expansão. As relações entre o Irã e Israel permanecem abertamente hostis e não há solução sem esforços de paz, que devem incorporar os palestinos.
Tudo isso cria um mundo bastante assustador. A condição física de Trump permanece desconhecida. Ele já deixou de cumprir os requisitos legais exigidos para a organização de sua posse. Isso não é um incômodo. Alguns de seus apoiadores já se movimentaram para fortalecer o Poder Executivo, reduzindo a intervenção do Congresso e do Judiciário.
Nesse novo clima, a América Latina não conseguirá satisfazer. Os imigrantes não são bem-vindos. Muitos que vieram sem autorização legal terão de sair. Bolsonaro já se candidatou para ir à posse, na esperança de que isso possa levar à sua própria autorização para ser nomeado presidente em 2926. Lula está muito chateado. Isso acontece com um déficit fiscal interno crescente.
O México já foi informado sobre as novas tarifas que serão aplicadas em breve, bem como sobre a conclusão de um muro na fronteira. Os problemas também se acumularão em outros lugares da região. Por outro lado. A nova liderança conservadora da Argentina já saudou a chegada de Trump, como Bolsonaro.
Tudo o que posso fazer é esperar por um tipo muito diferente de milagre.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.