Previdência, renúncias fiscais e emendas: alertas do TCU repercutem no governo e no Congresso

Conclusões apontam para crescimento das despesas previdenciárias, renúncias tributárias sem compensação e continuidade do orçamento secreto

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) fez alertas significativos para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para o Congresso Nacional ao analisar as contas presidenciais de 2023, primeiro ano do terceiro mandato do petista.

PUBLICIDADE

As conclusões do TCU, apontando descontrole nas contas públicas e um conjunto de distorções no Orçamento, repercutiram nos corredores do Legislativo. Na quarta-feira, 12, o relatório do tribunal estava nas pastas de parlamentares que circulavam na sede do Congresso, inclusive de integrantes da base aliada de Lula.

O presidente do TCU, Bruno Dantas, foi ao Senado no fim da tarde para entregar o parecer prévio ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e encontrou alguns congressistas, após fazer um discurso chamando a responsabilidade de todos os Poderes para os achados da Corte de Contas. O Congresso é responsável por julgar as contas presidenciais após o parecer do TCU, mas não cumpre esse papel há mais de 20 anos.

Presidente do TCU, Bruno Dantas, entrega parecer prévio sobre contas presidenciais de 2023 ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) Foto: Samuel Figueira/TCU

As despesas da Previdência Social voltaram a crescer, interrompendo um período de redução nos gastos que começou após a aprovação da reforma, em 2019. De tudo que o governo gastou em 2023, sem contar o serviço da dívida e os juros, 50,8% foram para dar conta da Previdência. Os regimes previdenciários públicos federais em conjunto tiveram déficit de R$ 428 bilhões, superando o resultado negativo dos dois anos anteriores. “A sangria desatada continua. O risco é enorme”, disse o ministro do TCU Aroldo Cedraz, durante a sessão de análise das contas presidenciais.

Publicidade

Os militares não foram poupados do relatório do TCU. O regime de aposentadorias e pensões das Forças Armadas arrecadou R$ 9,1 bilhões no ano passado, mas as despesas totalizaram R$ 58,8 bilhões, resultando em um déficit de R$ 49,7 bilhões. “O Tesouro Nacional seria superavitário se fosse possível excluir a Previdência Social do resultado primário”, disse Dantas.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, acompanhou a sessão no plenário do TCU. No dia seguinte, ela prometeu intensificar a agenda de corte de gastos, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), irmão do ministro Vital do Rêgo Filho, relator das contas presidenciais, também ouviu a leitura do relatório no local.

No lado da arrecadação, as renúncias tributárias somaram R$ 646,6 bilhões em 2023, o equivalente a 5,96% do Produto Interno Bruto (PIB). São recursos que o governo deixou de arrecadar ao conceder benefícios para as empresas. No ano passado, foram instituídas 32 desonerações tributárias no Brasil, segundo o TCU. Em seis delas, não foram cumpridas as exigências da Constituição e da Lei de Responsabilidade Fiscal que obrigam a demonstração do impacto e a previsão de medidas de compensação.

A recomendação da Corte é que nada seja aprovado ou sancionado sem esses requisitos. “O artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (que exige as compensações) tem sido reiteradamente descumprido”, pontuou Dantas. O alerta veio no momento em que o Senado discute uma série de projetos para compensar a desoneração da folha salarial que beneficia 17 setores da economia, entre os que mais empregam no País, e municípios.

Publicidade

Colocar as contas em dia também envolve um encontro marcado com as emendas parlamentares. Para o TCU, o governo não cumpriu as recomendações de dar transparência para o orçamento secreto pago entre 2020 e 2022. Até hoje, não é possível saber quais parlamentares apadrinharam todas as emendas e quais foram os critérios adotados pelo Executivo federal para essa destinação.

Com o fim do orçamento secreto, outras emendas ocuparam o espaço, pontuou o TCU, conforme o Estadão mostrou. As emendas Pix e as emendas de comissão, igualmente cercadas de questionamentos por falta de transparência e fiscalização, cresceram. Além disso, a Corte de Contas chamou a atenção para o crescimento dessas indicações no orçamento da Saúde, capturando o poder de alocação do Executivo.

“Impende (cabe) mencionar que a diminuição da capacidade do Poder Executivo em determinar a alocação dos investimentos pode trazer consequências deletérias à consecução de políticas públicas estruturantes, que via de regra transcendem questões locais, visto que devem ser pensadas para a solução de problemas que afetem o desenvolvimento econômico e social do país como um todo”, diz o relatório.