PARIS - O CEO da Azzas, Alexandre Birman, afirmou ser contra o aumento de juros e que o Brasil dará um “sinal péssimo” ao elevar a taxa Selic na próxima semana, conforme indica o consenso de mercado. No entanto, com as expectativas para a inflação no País desancoradas, um remédio ruim no curto prazo pode ser bom à frente, ponderou o executivo, que comanda o grupo dono de marcas como Arezzo, Hering e Farm.
“Eu acho que o sinal é péssimo. Entretanto, a gente tem que olhar a ‘big picture’, o que é menos ruim. E uma inflação descontrolada que vai aumentar o custo da dívida e que vai perder o controle, talvez um remédio ruim no curto prazo pode ser um bom no longo prazo”, disse Birman, ao Estadão/Broadcast, durante evento em Paris, na França.
O executivo integra a comitiva de empresários e investidores brasileiros que tem um encontro nesta quinta-feira, 12, com o presidente da França, Emmanuel Macron, organizado pelo Lide - Grupo de Líderes Empresariais.
O CEO da Azzas alertou para o impacto que juros maiores no País devem trazer para o consumo, mas que é papel do Banco Central controlar a inflação. “Mas, realmente, existe um descontrole orçamentário, foi injetado dinheiro na população, que está gastando, e a inflação está aumentando”, ponderou.
“Óbvio que eu sou contra o aumento de juros. É uma ação bem antagônica em relação ao mundo (com a Europa e os Estados Unidos cortando juros), mas talvez seja algo rápido, pontual”, acrescentou o executivo.
Ele também reclamou da “falta de clareza” no “complexo” ambiente de negócios no Brasil ao comentar o projeto que prevê a reoneração da folha de pagamentos. “Você faz um planejamento de investimento de médio e longo prazo sem saber exatamente o que você está vendo de carga tributária. Então, está complexo”, criticou.
De acordo com Birman, o governo brasileiro tem criado medidas provisórias do “dia para a noite” para aumentar a arrecadação. “Esse é o pior cenário”, avaliou.
Ontem, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto de lei que mantém a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios em 2024, prevendo a reoneração gradual a partir de 2025.
“Como é que uma empresa consegue se adequar? Falta clareza quanto às mudanças. A reforma tributária está indo bem, mas quanto à desoneração e outras medidas provisórias, faltou diálogo, certamente, e mais prazo para as empresas se adequarem”, disse.
A jornalista viajou a convite do Lide
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