Nesta semana, como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto porcentual, ritmo menor do que nas últimas cinco reuniões. O motivo da maior cautela foi a piora do cenário, tanto externo quanto doméstico.
No caso do primeiro, a resistência da inflação americana à queda levou ao adiamento do esperado ciclo de redução de juros por lá, valorizando o dólar em comparação às demais moedas, inclusive o real. O dólar mais claro implica preços mais altos para produtos importados e exportados, com repercussões sobre a inflação nacional.
Já no que se refere ao cenário doméstico, há novas pressões sobre a inflação, em parte vindas de uma economia que ameaça se aquecer demais, mas também por força do descaso com as contas públicas, recentemente reforçado pela redução das metas fiscais para os próximos anos, sinalizando aumento do endividamento do governo. O resultado é a elevação das expectativas inflacionárias, a pior notícia que um BC ainda na briga com a inflação acima da meta gostaria de receber.
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Lendo o comunicado do BC a respeito, fica claro que todos os membros do Copom partilham do mesmo diagnóstico, pior do que o enfrentado em sua última reunião. Apesar disto, quatro dos nove membros do comitê votaram para manter o ritmo de redução da Selic, o que causou considerável mal-estar nos mercados, marcado pela elevação dos juros futuros e do dólar, além de provável nova rodada de aumento da inflação esperada. Se têm a mesma visão dos demais sobre o cenário, por que defenderiam uma decisão distinta da maioria?
Chamou a atenção o fato de estes terem sido indicados pelo atual governo, levantando a suspeita da formação de uma maioria no Copom a partir do fim deste ano menos preocupada com a inflação e mais dócil com relação aos anseios do Executivo, recriando a relação de subserviência observada quando Alexandre Tombini ocupou a presidência da instituição.
Se for este o caso, juros de curto prazo podem até ser menores, mas o aumento da inflação esperada contamina as taxas para períodos mais longos e pressiona o dólar, desta vez não por forças internacionais, mas domésticas.
Espera-se, portanto, que a motivação da minoria seja muito bem explicada. Sem seu esclarecimento prevalecerá a visão descrita e, com ela, as consequências negativas para as taxas de juros e o dólar.
Torço para que haja esta lucidez entre os votantes minoritários. Sem ela, a quebra de unanimidade do comitê acabará custando bem mais caro do que parecem ter se dado conta.
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