Segundo o Banco Central, a atividade econômica cresceu num bom ritmo no segundo trimestre do ano, 1,1%, apesar da calamidade no Rio Grande do Sul. Os dados do IBGE relativos à produção industrial, ao desempenho do setor de serviços e às vendas no varejo – devidamente analisados por meu colega Diego Brandão – indicam que o impacto sobre a economia gaúcha, embora negativo, particularmente em maio, foi mais moderado do que temíamos e que também a recuperação foi bastante vigorosa.
Tal desempenho se deve, em boa parte, à demanda interna, sustentada pelo consumo das famílias, turbinado por vez pelas transferências do governo, como a Previdência, o Benefício de Prestação Continuada e o Bolsa Família, entre outros. Corrigido pela inflação, o conjunto de transferências federais, que era da ordem de R$ 1 trilhão no início de 2022, chegou a quase R$ 1,4 trilhão nos 12 meses terminados em junho deste ano e deve seguir em expansão ao longo dos próximos trimestres, seja pela elevação do salário mínimo acima da inflação, seja pela incorporação de novos beneficiários.
Parece a receita para a prosperidade, isto é, até que nos perguntemos quais os limites ao crescimento da economia. Como regra, exceto em situação de enorme ociosidade – como na saída da pandemia, quando o desemprego chegou a 15% da força de trabalho –, o PIB não pode crescer além de um certo ritmo, apelidado de “crescimento potencial”.
A capacidade de crescimento potencial depende do ritmo de expansão dos insumos necessários à produção: o aumento da população em idade de trabalho, a qualificação dessas pessoas, assim como o montante de máquinas, equipamentos e infraestrutura disponível para cada uma delas. Depende também de um elemento algo misterioso, a saber, a produtividade na combinação desses insumos, reflexo do desenvolvimento tecnológico e institucional dessa sociedade.
Nesse sentido, o crescimento potencial do País é baixo. Nosso bônus demográfico (quando a população em idade de trabalho cresce mais rápido) ficou para trás; o investimento nem sequer recuperou os níveis de 2013; a qualificação da mão de obra não enche os olhos de ninguém; e, exceto pela agricultura, o desempenho da produtividade tem sido pífio.
O BC já reconheceu esse problema, notando não haver ociosidade relevante na economia. A ficha, todavia, não caiu para o governo, que mantém a crença de que “gasto é vida”, apesar de todos os problemas que tal abordagem criou em passado nada remoto. O risco de elevação dos juros, ora em discussão, decorre diretamente dessa postura.
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