Produção de algodão brasileiro deve crescer até 19% e retomar nível pré-pandemia

Selo de responsabilidade social e ambiental atrai comprador no exterior; País é o quarto maior produtor e o segundo maior exportador

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Foto do author Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA - Do vaivém das colheitadeiras sobre imensos tapetes brancos procede uma notícia animadora para o Brasil e o mundo. A produção de algodão do País deve fechar o ano entre 13% e 19% maior do que a anterior e rumar ao ritmo pré-pandemia. A crise sanitária, que derrubou a demanda da indústria têxtil global, interrompeu o avanço da produção nacional, que havia dobrado em apenas cinco anos.

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A tendência de crescimento da produção neste ano deve consolidar o Brasil como quarto maior produtor e segundo maior exportador. Na safra plantada em 2019 foram produzidas 3 milhões de toneladas. Em 2017, 1,5 milhão. Para 2022, a produção é estimada entre 2,6 e 2,8 milhões de toneladas.

A qualidade do algodão brasileiro também atrai o mercado estrangeiro. O principal mercado é a Ásia, onde se consolidaram as maiores indústrias de roupas. Cerca de 84% da produção nacional leva o selo de “algodão sustentável”, só conferido aos que têm uma espécie de “ESG rural”. É preciso cumprir 178 requisitos de qualidade – sociais, econômicos e ambientais. Entre eles, as leis trabalhistas, o Código Florestal e ações em benefício da saúde e da segurança dos trabalhadores.

No início de agosto, uma comitiva com 21 industriais de Bangladesh, Vietnã, Coréia do Sul, Paquistão e Turquia visitou lavouras de algodão no Mato Grosso e na Bahia para conhecer a produção brasileira. Quem os recebeu destacou que eles se sentem seguros de comprar do Brasil por causa da organização dos produtores e da possibilidade de o País aumentar ainda mais a produção.

Produção de algodão em Cristalina (GO); safra está na fase da colheita  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Apesar do crescimento na produção esperado para este ano, a produtividade não foi a melhor. Mais de 90% das fazendas usam uma técnica que depende da água da chuva, e ela não veio nas épocas e nas quantidades esperadas. A média de quilos de algodão por hectare para este ano é mais baixa do que a de 2021, quando a área plantada foi menor do que a atual.

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No período mais crítico da pandemia, os fardos de algodão se acumularam nos pátios – mesmo os que já haviam sido negociados não eram retirados pelos compradores. A decisão de diminuir a área plantada foi inevitável.

Para 2023, o plano da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) é alcançar 1,7 milhão de hectares, superando a área da safra recorde de 2019. “A gente encolheu com a pandemia. Era uma decisão muito difícil. Vínhamos da maior safra da história. O algodão estava vendido, mas parado no pátio. Ninguém vinha buscar. E tínhamos de definir o plantio da próxima safra”, diz Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa, que pouco antes de a covid-19 se tornar emergência mundial inaugurou um escritório em Cingapura para ficar próxima dos industriais asiáticos.

O crescimento da produção de algodão nos últimos anos pode ser atribuído a três razões principais. Embora o cultivo seja mais difícil e oneroso, é mais lucrativo do que a soja. Do plantio até o pagamento pelo produto vendido, os produtores esperam cerca de um ano. Demora, mas, segundo eles, a renda compensa. O lucro obtido em um hectare de algodão equivale ao de quatro hectares de soja.

Outro motivo da alta é a demanda. Com a redução do home office e a retomada das atividades sociais e profissionais pelo mundo, a indústria têxtil vai recuperar o fôlego e continuar em alta. Há, ainda, uma razão prática. O algodão precisa de uma quantidade elevada de defensivos agrícolas, o que deixa a terra mais preparada para receber a cultura seguinte.

A gente encolheu na pandemia. O algodão estava vendido, mas parado no pátio. Ninguém vinha buscar

Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa

Cerca de 65% do algodão no Brasil é plantado como segunda safra, entre os cultivos de soja e milho. É por isso que as maiores colheitas ocorrem em regiões de predomínio dessas culturas, como Mato Grosso, Goiás e Bahia. O algodão é um ramo caro e pouco convidativo para fazendeiros com menos estrutura financeira e experiência. Os insumos necessários ficaram mais onerosos e elevaram o custo da produção. Itens indispensáveis, como cloreto de potássio e fósforo, estão de três a quatro vezes mais caros.

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Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os custos na Bahia se aproximam dos R$ 18 mil por hectare, contra R$ 15 mil na comparação com o segundo semestre do ano passado. Só o gasto médio com fertilizantes saltou de R$ 3 mil para R$ 5,4 mil.

“O potencial para termos uma nova safra recorde existe, mas o produtor tem de lidar com adversidades. O clima adverso frustrou um pouco a safra de grãos em geral. Os custos para entrar e se manter são altos. Não são todos os produtores que estão preparados”, disse Tiago Pereira, assessor técnico da Comissão de Cereais Fibras e Oleaginosas da CNA.

Fardos de algodão da GM Algodoeira; Brasil é o quarto maior exportador global  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Expectativa

A uma hora de Brasília, em Cristalina (GO), surgem as primeiras lavouras de algodão ladeando a estrada. De longe, os “cachos” dão a sensação de um grande tapete sendo varrido por colheitadeiras tecnológicas. Além do Centro-Oeste e da Bahia, Maranhão, Piauí e Minas Gerais têm lavouras expressivas. Cerca de 61% do produto já havia sido colhido até a semana passada nas fazendas de todo o País.

Do pé, a fibra sai junto com o caroço. Em seguida, os produtores passam ao descaroçamento do algodão, técnica em que as sementes são retiradas e finalmente é obtida a pluma que será comercializada. Dos mais de 2,6 milhões de toneladas de plumas que deverão ser produzidas este ano, 750 mil ficam no mercado brasileiro. O restante vai ao exterior.

Outro diferencial do produto brasileiro é que amostras são enviadas para um laboratório em Goiânia para que a produção possa ser separada conforme características como grossura da fibra, cor, resistência e pureza. Assim, os compradores obtêm produtores padronizados.

O agricultor Carlos Alberto Moresco, dono da GM Algodoeira, instalada em Cristalina, reduziu bastante a área plantada por causa da queda de demanda na pandemia. Mesmo assim, está satisfeito com a produtividade estimada porque sua fazenda está instalada numa área do interior de Goiás que sofreu menos com a falta de chuva.

“Encolhi o algodão e subi a soja. Sempre plantei em torno de 2 mil hectares. Ano passado, foram 840. Este ano, 960. A minha produtividade está muito boa. Vai se assemelhar ou surpreender a do ano passado. A seca que teve no Mato Grosso e na Bahia não afetou tanto a nossa região. Nossa região ainda vai ter uma produção razoável”, contou.

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