A iniciativa Net Zero Asset Managers (NZAM), fundada por gigantes de Wall Street para pressionar empresas a reduzir suas emissões de carbono, anunciou que suspendeu suas atividades após gestoras de ativos e bancos abandonarem o grupo. Com o presidente eleito Donald Trump prestes a assumir o cargo, os republicanos no controle do Congresso dos Estados Unidos e Estados americanos liderados por republicanos processando empresas financeiras por suas políticas ambientais, esses bancos e gestores de investimentos estão abandonando em massa suas coalizões climáticas.
“Desenvolvimentos recentes nos Estados Unidos e diferentes expectativas regulatórias e de clientes nas respectivas jurisdições dos investidores levaram a NZAM a iniciar uma revisão da iniciativa para garantir que ela continue adequada ao propósito no novo contexto global”, informou o grupo na segunda-feira, 13. “Durante essa revisão, a iniciativa suspenderá as atividades de acompanhamento da implementação e dos relatórios dos signatários. A NZAM também removerá de seu site a declaração de compromisso, a lista de signatários, bem como suas metas e estudos de caso, até a conclusão da revisão”, acrescenta a nota do grupo.
Na sexta-feira, 10, a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, anunciou que deixaria a iniciativa, criada por bancos e investidores para demonstrar seu compromisso com o combate às mudanças climáticas. Antes, os seis maiores bancos dos EUA — Goldman Sachs, Wells Fargo, Citi, Bank of America, Morgan Stanley e JPMorgan — haviam deixado outro grupo climático, a Net-Zero Banking Alliance, quatro anos após ajudar a criá-lo. Vários dos maiores gigantes de Wall Street abandonaram no ano passado uma aliança de sustentabilidade apoiada pela ONU chamada Climate Action 100+.
Quão grande é esse retrocesso para a redução das emissões de carbono? Especialistas dizem que é provável que as empresas financeiras continuem promovendo investimentos verdes, como já vinham fazendo. “Grande parte disso é apenas teatro político”, afirmou Madison Condon, professora associada da Faculdade de Direito da Universidade de Boston.
A BlackRock deixou isso claro em uma carta aos seus clientes explicando sua decisão. Mesmo após deixar a NZAM, a empresa afirmou que planeja continuar oferecendo aos investidores a opção de aplicar em fundos focados no clima, projetados para incentivar empresas a reduzirem emissões. Além disso, continuará monitorando os riscos que as mudanças climáticas representam para as empresas em que investe.
O que faz uma aliança climática?
O objetivo de formar grupos de finanças verdes é incentivar bancos e gestores de ativos a direcionar os trilhões de dólares que controlam para empresas que trabalham na redução das emissões de carbono, afastando esses recursos de empresas que contribuem para as mudanças climáticas. Em teoria, isso criaria um incentivo para a ação climática. As empresas participantes deveriam estabelecer metas climáticas ambiciosas e relatar regularmente seu progresso.
“A NZAM ajudou com sucesso a aumentar o nível de ambição entre os investidores globalmente e apoiou seu progresso enquanto buscavam seguir seus próprios caminhos individuais em direção a uma economia de baixo carbono, alinhada com seus objetivos financeiros de longo prazo e deveres fiduciários”, escreveu um porta-voz da iniciativa em um e-mail.
Mas, na perspectiva da BlackRock, sua participação na NZAM não fez muita diferença. “Nossa participação na NZAM não impactou a forma como gerenciamos os portfólios dos clientes”, escreveu a empresa em sua carta aos clientes.
Apesar do enfraquecimento desses grupos climáticos, as empresas nas quais a BlackRock e seus pares investem já estão levando em consideração as mudanças climáticas em suas decisões, independentemente de falar publicamente sobre isso ou enfrentar pressão dos investidores, de acordo com Lin Peng, professor de finanças do Baruch College.
“As mudanças climáticas ainda são uma parte importante de como as empresas tomam decisões”, disse Peng. “Empresas de imóveis e de seguros têm de considerar como os incêndios florestais ou o aumento do nível do mar alteram seus riscos.”
Um ‘efeito de resfriamento’ para as finanças verdes
Embora as alianças climáticas não tenham afetado a forma como bancos e empresas de investimentos operam, elas tornaram as empresas mais vulneráveis a críticas e investigações por parte de autoridades republicanas, disseram especialistas.
Em novembro, 11 procuradores-gerais de Estados republicanos, liderados pelo Texas, processaram a BlackRock e outras empresas financeiras, alegando que elas estariam conspirando para aumentar os preços da energia ao incentivar as empresas a minerar menos carvão. Em dezembro, republicanos na Câmara acusaram a BlackRock e outros gestores de ativos de formar um “cartel climático” para reduzir as emissões das empresas às custas dos acionistas.
Em ambos os casos, as autoridades apontaram para grupos como a NZAM e o Climate Action 100+ como evidências de que as empresas financeiras estavam conspirando entre si de maneiras que violam as leis antimonopólio.
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“Nossas adesões em algumas dessas organizações causaram confusão quanto às práticas da BlackRock e nos submeteram a investigações legais por várias autoridades públicas”, afirmou a empresa em sua carta.
Condon, da Universidade de Boston, disse que não importa muito se um banco ou gestor de investimentos entra ou sai de uma aliança climática. No entanto, ela afirmou que a reação contra a BlackRock e seus pares criou um “efeito de resfriamento” para desencorajar as empresas financeiras nos Estados Unidos de se posicionar publicamente sobre as mudanças climáticas.
Nos últimos anos, bancos e empresas de investimento, via reguladores da Comissão de Valores Mobiliários (SEC), têm pressionado as empresas a divulgar mais informações sobre como as mudanças climáticas ou a transição para a energia renovável podem afetar seus negócios. Empresas de petróleo e gás, por exemplo, podem esperar vender menos combustível em um mundo com mais carros elétricos.
“Se os gestores de investimentos forem desencorajados a ponto de não poder nem sequer reconhecer a transição verde, isso claramente será uma perda, porque a transição está acontecendo”, disse Condon. “Com a eleição de Trump, veremos menos interesse na América em pressionar as empresas por esse tipo de divulgação.”
“Por isso, isso poderia ser um passo significativo para trás.”/Com Nicolás Rivero, do “Washington Post”