Nova alta dos juros? Discussão sobre expansão de gastos em 2023 coloca questão no radar do mercado

Para analistas, tamanho da ‘licença’ para gastar além do teto negociada por novo governo pode afetar inflação e dívida, e levar o BC a adiar plano de redução da Selic

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As incertezas em torno da mudança da atual âncora fiscal e as discussões para tirar o Auxílio Brasil do teto de gastos realimentaram no mercado a discussão sobre o risco de uma política monetária mais apertada no próximo governo – com a postergação de cortes ou mesmo novas altas das taxas de juros.

A avaliação é de que uma expansão fiscal de até R$ 175 bilhões para garantir o cumprimento de parte das promessas eleitorais do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia ter impacto nos índices de inflação, tornando ainda mais difícil a tarefa do Banco Central de levar o indicador para próximo da meta. Nas projeções do mercado, o aumento de gastos públicos também poderia impedir a estabilização da dívida bruta, mesmo que esse crescimento seja limitado pela inflação nos anos subsequentes.

Presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem ressaltado que é preciso esperar para ver qual será o plano do novo governo Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, as sinalizações do novo governo para a política fiscal mostram que uma retomada do ciclo de aperto monetário não está descartada. O economista diz que, agora, a autarquia deve se debruçar sobre as informações acerca de dois pontos centrais: a magnitude do aumento dos gastos em 2023 e as garantias para os próximos anos.

“Se for mesmo alguma coisa próxima de R$ 200 bilhões de gasto adicional, você tem em primeiro lugar um impacto sobre a demanda, que hoje o BC não está considerando nas projeções. E o segundo aspecto depende do tipo de coisa que o governo precisa mostrar para sugerir que essa exceção não vai se repetir nos próximos anos”, afirma Schwartsman.

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A atenção do mercado estará focada também nas informações sobre como o governo pretende financiar essas despesas, o que pode determinar a magnitude da reação dos mercados, diz Schwartsman, citando o paralelo com o Reino Unido. “Se isso aconteceu em um país desenvolvido, imagine o que pode acontecer aqui”, alerta o economista. No Reino Unido, um pacote de expansão fiscal promovido pela ex-primeira ministra Liz Truss derrubou o mercado e levou a política a renunciar o cargo.

Nas contas da XP, uma “licença” de R$ 175 bilhões levaria a um aumento da dívida pública de 76% do PIB, previstos em 2022, para 88,3% em 2030. Em um cenário de manutenção do teto dos gastos, a dívida poderia cair a 74,1% do PIB até o fim da década. Caso o governo inclua uma política de aumento real do salário mínimo de 2% ao longo dos anos, a dívida avançaria a 97,5% até 2030.

“Nosso cenário base prevê espaço para a autoridade monetária reduzir juros em 2023, com base na desinflação global e no ajuste monetário já implementado. No entanto, como sempre ressalvamos em nossos relatórios, ‘se a política fiscal se tornar mais expansionista, comprometendo a trajetória esperada para a ociosidade da economia e para as expectativas de inflação, a taxa Selic poderá ser elevada novamente’”, escreve o economista-chefe da XP, Caio Megale, em relatório.

Megale alerta que, nesse caso de nova alta da Selic, a tendência é que as projeções de PIB para 2023 e 2024 recuem, mesmo com a expansão fiscal de curto prazo.

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Segundo o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, a curva de juros futuros já precificaria dois novos aumentos da Selic, de15 a 20 pontos-base, em dezembro e janeiro. O início do ciclo de cortes seria em junho de 2023, com os juros chegando a 13,25% no fim do ano que vem (ante os 13,75% atuais). Em declarações recentes, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem ressaltado que é preciso esperar para ver qual será realmente o plano do novo governo.

A expectativa é de que a equipe de transição de Lula apresente hoje o texto final da chamada PEC da Transição, que vai abrir espaço no Orçamento de 2023 para novos gastos fora do teto. Até agora, a negociação com o Congresso só envolveu a chamada “ala política” do novo governo, sem a participação do grupo técnico de economia da transição

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