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Opinião | Banco Central quer PIB mais fraco antes de pausar alta dos juros; Lula e Sidônio vão deixar?

Ata do Copom reforça novo aumento da Selic na reunião de maio, que atingirá patamar maior do que no governo Dilma Rousseff

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Foto do author Alvaro Gribel

BRASÍLIA - O Banco Central quer ver sinais mais evidentes de desaceleração do PIB antes de pensar em interromper o ciclo de alta dos juros. Esse é um dos principais recados da ata do Copom divulgada nesta terça-feira, 25, que reforçou que a Selic vai subir novamente em maio, ainda que em “menor magnitude”.

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Outro ponto importante, como pontuou a Ativa Corretora para o Estadão/Broadcast, é que o cenário exige “restrição monetária maior e por mais tempo do que outro apropriado”. Isso indica que os juros vão subir para além da reunião de maio.

“O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, diz o comitê.

Para a próxima reunião, a leitura principal do mercado é a de que a Selic subirá em 0,5 ponto (ritmo mais brando do que o aumento de 1 ponto das últimas três reuniões). Com isso, os juros vão atingir 14,75%, um patamar mais alto do que o pior momento do governo Dilma Rousseff.

BC afirmou, mais uma vez, que o cenário é de elevada incerteza Foto: Raphael Ribeiro/BC

De um lado, o Banco Central está preocupado com o efeito da dose cavalar de juros que já aplicou à economia. A preocupação é legítima, porque o controle da inflação precisa acontecer com o menor custo possível para o nível de atividade, incluindo o mercado de trabalho e os investimentos.

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Mas, de outro, reconhece que o cenário para a inflação “segue desafiador em diversas dimensões”. Por isso, indicou uma nova alta da Selic, em maio, mesmo depois de subir a taxa de 10,5%, em setembro, para 14,25%, este mês.

“O comitê acompanhará o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade da taxa de câmbio; e as expectativas de inflação, que apresentaram desancoragem adicional e são determinantes para o comportamento da inflação futura”, disse o BC.

Sobre o ritmo de atividade, o BC elaborou um longo parágrafo, em que afirma enxergar sinais “incipientes” de moderação do crescimento, mas também afirma que o PIB do primeiro trimestre deve vir forte, em função da safra agrícola. De toda forma, enfatizou que o consumo das famílias teve uma primeira queda, após subir por 13 trimestres consecutivos.

O BC afirmou, mais uma vez, que o cenário é de elevada incerteza. Pelo lado externo, há as políticas erráticas do presidente americano Donald Trump, os riscos geopolíticos, e agora o aumento de gastos com defesa da Europa, que podem pressionar as taxas de juros globais.

Internamente, houve novo recado de que incerteza no campo fiscal tem tido impacto sobre os preços dos ativos, leia-se, dólar, além de afetar as expectativas dos agentes econômicos. Por isso, cobrou, mais uma vez, que as políticas fiscal e monetária sejam “harmoniosas”. Como o BC vem apertando os juros, o pedido é para que o Ministério da Fazenda faça o mesmo com os gastos.

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O BC também deu três sinalizações à frente. Primeiro, disse que vai continuar subindo os juros, e que o ciclo não está encerrado. Segundo, que a alta vai ser menor, em função de todo aumento que já foi feito. Terceiro, que, como há incertezas, ele quer tempo para decidir os próximos passos.

Não há dúvidas que o BC persegue a inflação e que vem seguindo à risca o manual de política monetária. O olhar para o PIB faz sentido, porque a inflação de serviços só vai cair com a piora do mercado de trabalho.

A grande dúvida é: Lula e Sidônio vão permitir a desaceleração da atividade a um ano das eleições ou vão adotar novas medidas de estímulos que vão atrapalhar o trabalho do Banco Central? Esse risco permanece em aberto.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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