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Análise|Banco Central unido supera pressão do governo e reduz ruído sobre a política monetária

Dúvida é se Lula terá capacidade para enxergar além do curtíssimo prazo e compreender que o resultado desta quarta não é ruim, como parece pela ótica petista

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

A decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em 10,5% na noite desta quarta-feira, 19, é menos importante do que o sinal dado pelos nove diretores que compõem o Comitê de Política Monetária (Copom). A votação unânime mostrou que o colegiado conseguiu superar o racha da última reunião, em maio, e, mais do que isso: suportar a forte pressão política que vinha do Palácio do Planalto pela continuidade da queda dos juros.

Especialmente o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, demonstrou independência em relação ao governo e sugeriu que uma possível indicação à presidência do Banco no final do ano não significará subordinação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em outras palavras, Galípolo ganhou credibilidade – e isso levará a juros mais baixos para o País, a partir do ano que vem, caso sua indicação se confirme.

Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

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A dúvida é se Lula terá capacidade para enxergar além do curtíssimo prazo e compreender que o resultado desta quarta não é ruim, como parece pela ótica petista. Uma nova decisão dividida seria desastrosa para o ambiente econômico, com uma disparada do dólar, piora das expectativas de inflação e aumento da curva longa de juros.

A Selic foi mantida em 10,5% porque as expectativas de inflação estão se distanciando do centro da meta de 3% e porque o cenário externo está mais adverso. Nos EUA, a esperada queda dos juros pelo BC americano ainda não aconteceu; e aqui no Brasil, o governo não conseguiu passar credibilidade na política fiscal. A mudança das metas de resultado primário, em abril, aconteceu dias depois de números mais fortes da inflação americana, e isso alterou todo o panorama para o ano – não só no Brasil, mas no mundo.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sai com a imagem arranhada por ter contribuído para o aumento das incertezas às vésperas de uma reunião do Copom. Ao aceitar ser homenageado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em um jantar em São Paulo, ele trouxe para o BC um componente político que é completamente descabido para um cargo técnico.

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Campos Neto ainda não entendeu que atua como Pessoa Jurídica 24 horas por dia e representa a instituição responsável não só por decidir os juros, mas por defender a nossa moeda.

A manutenção da Selic em 10,5% se parece muito mais com uma parada técnica, do que uma interrupção definitiva dos cortes. A decisão unânime foi o melhor desfecho para uma crise fabricada internamente e completamente sem sentido.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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