Depois de dois trimestres de estagnação (-0,1% no terceiro e 0,1% no quarto), a economia brasileira voltou a crescer em um ritmo mais forte no primeiro trimestre deste ano, com uma alta de 0,8% em relação ao período anterior. A composição do crescimento foi boa, puxada não só pelo consumo das famílias, que subiu 1,5%, mas também pelos investimentos, que saltaram 4,1%, enquanto o consumo do governo ficou zerado.
Pela ótica da produção, também há boas notícias. A indústria de transformação voltou a crescer, com uma alta de 0,7%, depois de dois trimestre estagnada. Os serviços avançaram 1,4%, em uma sequência de 15 trimestres consecutivos de alta, no pós-pandemia. Já a agricultura saltou 11,3%, consolidando o primeiro trimestre como grande momento do ano para o setor.
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, prevê mais uma alta de 0,8% no segundo trimestre, em relação ao primeiro – outro número bom – e vai revisar de 2% para 2,2% a sua projeção para o ano. O grande problema, diz, é que nada indica que esse ritmo seja sustentável.
Os recentes ruídos envolvendo o Banco Central desancoraram as expectativas de inflação, o que levará o Copom a manter a Selic mais alta do que se previa anteriormente. Isso vai impactar a concessão de crédito, afetando o consumo de bens duráveis e também os investimentos. Além disso, há os efeitos da tragédia do Rio Grande do Sul, que manterão o estado com baixa atividade econômica.
Mesmo com a alta no trimestre, os investimentos permanecem em patamar baixo como proporção do PIB. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, houve redução, de 17,1% para 16,9%, o menor nível desde 2020. Vale explica que pode ter ocorrido uma queda nos preços nominais dos investimentos, o que afeta esse indicador.
Leia mais
Ainda assim, é cedo para apostar que os investimentos entraram em um ciclo consolidado de alta. A taxa de poupança também caiu, de 17,5% para 16,2%. A grosso modo, a economia está queimando poupança para consumir, e não para investir.
Na taxa acumulada em 12 meses, os investimentos ainda estão negativos em 2,7%, enquanto o PIB como um todo cresce 2,5%. Já o consumo das famílias cresce 3,2% enquanto o consumo do governo salta 2,1%. O consumo, não o investimento, tem sido o motor do PIB.
O risco fiscal continua sendo o grande calcanhar de Aquiles da economia. A equipe econômica ainda não consegue passar confiança de que voltará a registrar superávits primários neste governo – e, com isso, ninguém consegue projetar com segurança quando a dívida pública começará a cair.
As falas do presidente Lula e de vários integrantes do PT contra a economia de mercado, a mudança na Petrobras, a falta de gestão do setor elétrico pelo Ministério de Minas e Energia são outros componentes que afugentam investidores.
O governo pode e deve comemorar o bom número deste início do ano. Mas ainda tem um longo dever de casa a fazer para que o crescimento forte se torne sustentável.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.