EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Opinião | Cortes frustram expectativas e mostram que adiamentos só serviram para desidratar ideias da Fazenda

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perde a principal batalha econômica deste ano e sai derrotado ao final do processo, sem conseguir restabelecer a confiança na sustentabilidade da dívida pública

PUBLICIDADE

Foto do author Alvaro Gribel

O pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, somado às conversas que ele teve com lideranças do Congresso nesta quarta-feira, 27, frustraram as expectativas de que o governo Lula estaria disposto a fazer um ajuste fiscal para valer.

PUBLICIDADE

O fato é que os sucessivos adiamentos do pacote por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviram apenas para desidratar as principais ideias da Fazenda – entre elas, a tentativa de enquadrar as rubricas do Orçamento dentro do teto de 2,5% do arcabouço fiscal.

Se por um lado isso será implementado para o salário mínimo, por outro, ficaram de fora as áreas com saúde e educação, que hoje crescem indexadas pelas receitas passadas, sem nenhum tipo de avaliação sobre o uso dos recursos e resultados das políticas.

Nos bastidores, Haddad vinha tentando dissuadir Lula de anunciar ampliação da isenção do IR neste momento, por entender que ela merece uma discussão à parte, dentro da reforma da renda, que está em fase de elaboração. Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo lideranças do Congresso, o Fundeb continuará crescendo nos próximos dois anos, e sequer o seu porcentual para a composição do piso da educação será ampliado. Essa medida não representaria cortes de gastos, mas daria maior flexibilidade para o Orçamento, liberando recursos para bloqueios e contingenciamentos.

O número de R$ 70 bilhões informado pelo ministro Fernando Haddad em dois anos ainda passará por forte escrutínio de economistas para separar o que são de fato medidas estruturais e o que são medidas paliativas, como o uso de biometria para o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Dificilmente esse valor vai ficar de pé.

Publicidade

O anúncio do pacote misturado com a isenção para o Imposto de Renda (IR) poderia até ser contornado, caso houvesse de fato medidas fortes e concretas para reduzir despesas. Mas isso não aconteceu.

A aposta de políticos mais à esquerda no governo, como Rui Costa (Casa Civil), Paulo Pimenta (Ministro das Comunicações) e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, é de que a isenção do IR trará ganhos políticos para as eleições de 2026.

Até lá, contudo, a tendência será de desvalorização do real, aumento da inflação e dos juros, e desaceleração da economia. Um ambiente econômico desfavorável que deve ajudar a impulsionar candidaturas da oposição.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.