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Análise|Nova pesquisa do BC derruba tese de que mercado é o ‘malvadão’ nas projeções de inflação

Pela pesquisa, divulgada pela primeira vez pelo Banco Central nesta segunda-feira, empresários projetam inflação mais alta para o Brasil do que investidores ouvidos pelo boletim Focus

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

O Banco Central divulgou nesta segunda-feira, 12, a primeira pesquisa Firmus, que mostra as expectativas dos empresários sobre a inflação no País. E os números derrubam a tese – defendida por muitos anos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – de que o mercado financeiro joga números para cima para depois ganhar dinheiro com o aumento da taxa básica de juros (Selic).

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De acordo com a Firmus, os empresários ouvidos em maio deste ano projetavam inflação de 4% em 2024, 4% em 2025 e 3,7% em 2026 – em todos os cenários, bem acima da meta de 3%, mas dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual previsto no regime de metas.

Para os mesmos três anos, o Boletim Focus – que coleta projeções do mercado financeiro – apontava inflação de 3,89% em 2024, de 3,77% em 2025 e de 2,6% em 2026.

“A mediana das expectativas de inflação informadas pelas empresas na Firmus foi consistentemente maior que a mediana correspondente da pesquisa Focus”, disse o Banco Central.

Os números comprovam o que já havia sido dito pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por diversas vezes: pesquisas feitas com empresários em outros países do mundo geralmente apontam para números mais altos do que as projeções feitas pelo mercado financeiro.

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Ao contrário do que defende o PT, se o Banco Central prestar mais atenção nos empresários – e menos no que diz bancos e consultorias – sobre a inflação, o País terá uma Selic mais alta.

Nova Firmus mostra o que já havia sido dito por Campos Neto: pesquisas feitas com empresários em outros países do mundo geralmente apontam para números mais altos do que projeções feitas pelo mercado. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Para o economista Luis Otávio Leal, sócio da G5 Partners, e especialista em inflação, a pesquisa vem somar informações ao que é coletado pelo Focus. Um ponto de atenção, diz, é o mercado de trabalho aquecido e seus efeitos sobre a inflação.

“A parte preocupante mesmo é a percepção de que há uma pressão de salários, já que a maioria das empresas esperava aumento de custos de mão de obra acima de 4% nos próximos 12 meses”, afirmou.

Por outro lado, ele avalia que os números mostram que não há a percepção, no mundo empresarial, de que a inflação esteja fora de controle no País. “Mais de 40% dos entrevistados não esperam uma aceleração dos seus preços com relação a inflação esperada, o que mostra que não temos uma espiral inflacionária. Por outro lado, apenas algo ao redor de 20% acham que vai cair”, disse.

Entenda a pesquisa

A Pesquisa Firmus ainda acontece de forma experimental, como piloto. O BC já fez três sondagens com empresários, em novembro de 2023, fevereiro e maio deste ano. Haverá sigilo e confidencialidade das informações.

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“A Pesquisa Firmus capta a percepção de empresas não financeiras quanto à situação de seus negócios e às variáveis econômicas que podem influenciar suas decisões. A pesquisa é realizada trimestralmente e suas coletas são feitas a partir da semana seguinte à primeira reunião do Copom em cada trimestre. A etapa piloto da pesquisa teve início no último trimestre de 2023 e continua em andamento”, diz o Banco Central.

Na primeira rodada, foram consultadas 82 empresas, na segunda, 74, na terceira, 92. Já o Focus ouviu 132 instituições em novembro, 108 em fevereiro, e 147 em maio.

Um ponto destacado pelo Banco Central e por Luis Otávio Leal é que o “desvio-padrão”, ou seja, o número de respostas distantes da média, foi diminuindo ao longo das três sondagens. Isso quer dizer que elas foram se acostumando com o questionário e aprimorando seus estudos para dar uma melhor resposta.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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