Coube ao senador oposicionista Marcos Rogério (PL-RO) dar o melhor recado ao economista Gabriel Galípolo, durante a sua sabatina no Senado para ser aprovado para a presidência do Banco Central.
“Vossa senhoria sabe como está entrando para a presidência do Banco Central, mas, se vai sair como Mantega (no caso, o correto seria dizer Alexandre Tombini) de Dilma, ou com a imagem de Meirelles, de Lula, ou Campos Neto, de Bolsonaro, são suas escolhas que vão decidir”, afirmou.
O placar de 26 votos a favor da sua indicação pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o mesmo de Campos Neto em 2019, indica que Galípolo não deu motivos para maiores preocupações entre os senadores. Nos bastidores, os relatos foram de que ele foi hábil no “beija-mão” feito no mês passado com pelo 65 parlamentares, não só ouvindo com atenção, mas explicando o funcionamento do Banco Central e a política de juros, e isso tornou o clima extremamente ameno durante a sabatina.
Na CAE, o economista lembrou que durante seu mandato como diretor de Política Monetária ele já cortou a Selic, manteve a taxa, e agora está votando pela elevação dos juros. Ou seja, já vivenciou as três possibilidades e não cedeu a nenhum tipo de pressão política.
O início do ciclo de alta dos juros pelo Banco Central na última reunião do Copom esvaziou o discurso da oposição. Ficou mais difícil colocar em xeque a autonomia de Galípolo em relação ao governo federal se ele está seguindo exatamente o que manda o manual da política monetária e acompanhado Campos Neto: os juros sobem se as expectativas de inflação estão desancoradas, exatamente o que acontece agora.
O grande deslize de Galípolo desde que entrou para o BC, assim como o dos outros três diretores indicados por Lula, foi a reunião dividida em 5 a 4, em maio, mas o episódio está cada dia mais superado. Na época, os cinco diretores herdados do governo Bolsonaro votaram por um corte de 0,25 ponto, enquanto os quatro de Lula foram vencidos, ao propor a uma redução de meio ponto.
A volatilidade foi grande, o dólar e as taxas de juros futuras subiram. Com as decisões unânimes nas últimas três reuniões, contudo, a confiança foi praticamente restabelecida.
No mercado, sempre haverá quem questione as suas decisões, já que o economista não é uma “cria da Faria Lima” e estudou na PUC de São Paulo, uma instituição com visão mais heterodoxa no combate à inflação. E, entre os petistas, haverá o receio constante por ele não ser quadro histórico do partido e ter acompanhado Campos Neto em quase todas as decisões do Copom.
Pela sabatina, Galípolo passou fácil. O seu grande desafio, contudo, será desempenhar o papel de equilibrista, ignorando as pressões que certamente irão acompanhar os seus quatro anos de mandato.
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