EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Análise | Galípolo supera sabatina com facilidade, mas terá sempre que lidar com a desconfiança dos dois lados

Economista repete placar de Campos Neto em Comissão e é aprovado em plenário, mas seu grande desafio será se equilibrar entre as críticas do mercado e as cobranças do governo

PUBLICIDADE

Foto do author Alvaro Gribel

Coube ao senador oposicionista Marcos Rogério (PL-RO) dar o melhor recado ao economista Gabriel Galípolo, durante a sua sabatina no Senado para ser aprovado para a presidência do Banco Central.

PUBLICIDADE

“Vossa senhoria sabe como está entrando para a presidência do Banco Central, mas, se vai sair como Mantega (no caso, o correto seria dizer Alexandre Tombini) de Dilma, ou com a imagem de Meirelles, de Lula, ou Campos Neto, de Bolsonaro, são suas escolhas que vão decidir”, afirmou.

O placar de 26 votos a favor da sua indicação pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o mesmo de Campos Neto em 2019, indica que Galípolo não deu motivos para maiores preocupações entre os senadores. Nos bastidores, os relatos foram de que ele foi hábil no “beija-mão” feito no mês passado com pelo 65 parlamentares, não só ouvindo com atenção, mas explicando o funcionamento do Banco Central e a política de juros, e isso tornou o clima extremamente ameno durante a sabatina.

GALÍPOLO BRASÍLIA DF 08.10.2014 SABATINA/GALÍPOLO POLÍTICA OE - A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal deu início na manhã desta terça-feira 08 de Outubro a sabatina do indicado à presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo, realizada no Congresso Nacional em Brasília. FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO Foto: Wilton Junior/Estadão

Na CAE, o economista lembrou que durante seu mandato como diretor de Política Monetária ele já cortou a Selic, manteve a taxa, e agora está votando pela elevação dos juros. Ou seja, já vivenciou as três possibilidades e não cedeu a nenhum tipo de pressão política.

O início do ciclo de alta dos juros pelo Banco Central na última reunião do Copom esvaziou o discurso da oposição. Ficou mais difícil colocar em xeque a autonomia de Galípolo em relação ao governo federal se ele está seguindo exatamente o que manda o manual da política monetária e acompanhado Campos Neto: os juros sobem se as expectativas de inflação estão desancoradas, exatamente o que acontece agora.

Publicidade

O grande deslize de Galípolo desde que entrou para o BC, assim como o dos outros três diretores indicados por Lula, foi a reunião dividida em 5 a 4, em maio, mas o episódio está cada dia mais superado. Na época, os cinco diretores herdados do governo Bolsonaro votaram por um corte de 0,25 ponto, enquanto os quatro de Lula foram vencidos, ao propor a uma redução de meio ponto.

A volatilidade foi grande, o dólar e as taxas de juros futuras subiram. Com as decisões unânimes nas últimas três reuniões, contudo, a confiança foi praticamente restabelecida.

No mercado, sempre haverá quem questione as suas decisões, já que o economista não é uma “cria da Faria Lima” e estudou na PUC de São Paulo, uma instituição com visão mais heterodoxa no combate à inflação. E, entre os petistas, haverá o receio constante por ele não ser quadro histórico do partido e ter acompanhado Campos Neto em quase todas as decisões do Copom.

Pela sabatina, Galípolo passou fácil. O seu grande desafio, contudo, será desempenhar o papel de equilibrista, ignorando as pressões que certamente irão acompanhar os seus quatro anos de mandato.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.