O economista Gabriel Galípolo terá o desafio diário de conquistar credibilidade junto ao mercado financeiro, ao mesmo tempo em que terá que conter as tentativas do governo de controlar a política monetária e reduzir os juros na marra. Na prática, Galípolo já vem fazendo isso, desde que assumiu a diretoria de Política Monetária, em maio do ano passado, mas agora, como presidente, sofrerá uma pressão muito maior de ambos os lados.
A indicação vem em um momento delicado para a inflação, com o IPCA acumulado em 12 meses batendo no teto da meta, em 4,5%, e com as expectativas de inflação “desancoradas”, como dizem os economistas, ou seja, longe da meta de 3%. Por outro lado, as economias emergentes, como a brasileira, serão beneficiadas com o início dos cortes de juros pelo Fed, o Banco Central americano, previsto para começar já no mês que vem. Isso pode trazer alívio para o dólar, com reflexos positivos sobre a nossa inflação.
Até aqui, o Banco Central tem tido pouca ajuda da política fiscal para controlar o aumento dos preços. Na própria segunda-feira, como mostrou o Estadão, o governo anunciou que vai quadruplicar os gastos com o Auxílio Gás e usar o fundo do petróleo para não contabilizar essa despesa como gasto primário. Um truque fiscal que lembra os piores momentos do governo Dilma Rousseff.
As comparações entre Galípolo e o ex-presidente do Banco Central Alexandre Tombini, como fazem muitos analistas do mercado financeiro, por sua vez, carecem de fundamentos. Os fatos mostram que desde que ele entrou no BC acompanhou o presidente Roberto Campos Neto em oito de nove reuniões. A única discordância aconteceu em maio deste ano, quando os quatro diretores indicados por Lula votaram por um corte de meio ponto na Selic, enquanto os outros cinco decidiram por uma redução de 0,25 ponto.
A divisão gerou forte turbulência nos mercados – com motivos – mas parece que o recado foi entendido. Nas últimas duas reuniões, o BC votou de forma unânime, e Galípolo tem dado declarações até mais duras do que as de Campos Neto, ao comentar os próximos passos da política monetária.
Nos bastidores, o que se comenta é que Galípolo terá a grande vantagem de conseguir conversar e convencer o presidente Lula sobre a necessidade de subir juros, caso essa seja a decisão mais apropriada. Essa proximidade, Campos Neto nunca tentou ter, até pelas suas ligações com o governo passado.
Aos 42 anos, o economista tem a chance de eliminar um risco monetário que é associado a governos de esquerda desde o governo Dilma Rousseff. Que não perca a oportunidade.
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