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Repórter especial de economia em Brasília

Opinião | Golpe de Estado seria tragédia econômica, com caos financeiro, disparada do dólar e fuga de capitais

Ruptura da ordem democrática teria efeitos colaterais sobre a economia no curto, médio e longo prazos

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

Disparada do dólar, fuga de capitais e rebaixamento imediato da nota de risco do País, que tenderia a ser classificada como “lixo” pelas principais agências. Inflação, recessão, alta dos juros e expulsão de blocos comerciais, como o Mercosul. Esse é apenas um pedaço da extensa lista de efeitos colaterais do que seria o dia seguinte a um golpe de Estado no Brasil. A ruptura da ordem democrática seria uma tragédia não apenas política, mas levaria ao caos econômico.

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A denúncia do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, sobre uma suposta tentativa de golpe por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro indica o quanto o País esteve à beira do precipício. A decretação do estado de sítio e a anulação das eleições de 2022 jogariam o País em uma incerteza que os modelos econômicos não teriam capacidade de avaliar. Essa falta de clareza à frente levaria a uma paralisia nos investimentos, com impacto na Bolsa e na economia real.

As maiores economias do planeta não reconheceriam o governo golpista, provocando a disparada do dólar, da inflação e o descontrole financeiro. O aumento do risco levaria o capital internacional a deixar o País, incluindo grandes fundos de investimento e fundos de pensão, que hoje seguem regras de compliance e que não aceitariam a ruptura democrática.

A denúncia do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, sobre uma suposta tentativa de golpe por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro indica o quanto o País esteve à beira do precipício. Foto: Wilton Junior/Estadão

A resistência ao golpe não seria apenas externa, mas principalmente interna, com efeitos sobre a economia real e o nível de atividade. Greves gerais e protestos organizados pelas redes sociais levariam a um aumento da repressão sobre opositores do regime, com a prisão de políticos, censura e fechamento de jornais. A intervenção no Supremo Tribunal Federal (STF) levaria à desordem jurídica e quebra de contratos.

O paralelo com o que houve com a economia após o golpe de 1964 não encontra respaldo no momento atual, já que o contexto internacional é outro. A economia brasileira hoje é globalizada, mais integrada às cadeias de suprimento e mais dependente dos fluxos de capitais e do comércio internacional.

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O risco fiscal – ao contrário do que muitos possam imaginar – seria agravado no curto, médio e longo prazos, já que regimes autocráticos dependem do populismo econômico para se manter no poder.

Se houve tentativa de golpe ou não, caberá ao STF julgar, com amplo direito de defesa aos acusados. A certeza é de que a economia seria fortemente atingida, com efeitos colaterais que poderiam levar décadas para serem superados.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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