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Análise | Líderes alertam Haddad de que ele terá de entrar em campo para evitar desidratação do pacote fiscal

Ministério da Fazenda não descarta envio de medidas adicionais de ajuste, mas vê reação exagerada do mercado financeiro e por isso foco é batalhar pela aprovação das propostas enviadas

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Foto do author Alvaro Gribel

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi alertado por lideranças do Congresso de que precisará entrar em campo para evitar que o pacote de corte de gastos enviado pelo governo seja desidratado durante a sua tramitação na Câmara e no Senado nesta semana.

Segundo relatos obtidos pelo Estadão, Haddad recebeu telefonema de uma liderança parlamentar com o alerta, especialmente depois da forte piora dos indicadores financeiros da economia brasileira nos últimos dias. Há no Congresso a sensação de que é melhor a Fazenda conduzir esse processo de negociação, para atenuar riscos e evitar perdas maiores, do que ser surpreendida caso a tramitação corra sem controle.

Líderes alertam Haddad de que ele terá de entrar em campo para evitar desidratação do pacote fiscal. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Nesta segunda-feira, o Banco Central fez leilões de dólar e ainda assim a cotação da moeda americana continuou em alta, e houve forte aumento dos juros negociados pelo mercado para carregar a dívida do Tesouro Nacional.

Embora o Ministério da Fazenda entenda que o pacote fiscal seja duro, com mudanças que atingem o salário mínimo, abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outras, a pasta não descarta o envio de propostas adicionais de ajuste para as contas públicas. Isso só vai acontecer, contudo, depois da tramitação e aprovação das medidas enviadas.

O foco da equipe econômica neste momento é evitar a desidratação das medidas, que podem atingir, como mostrou o Estadão, o BPC, o Fundo Constitucional do DF e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), além dos supersalários e limitação da compensação de créditos tributários.

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A interlocutores, Haddad tem dito que não faz sentido o Congresso reclamar que o pacote fiscal é frágil, para logo em seguida propor medidas que afrouxem ainda mais as regras. Essa tendência só reforça, na visão do ministro, a ideia de que o ajuste é sólido e que havia pouco espaço político para propostas mais duras.

Sobre a deterioração dos indicadores financeiros, principalmente dólar e juros futuros, técnicos da Fazenda e do Tesouro Nacional entendem que o mercado está “exagerando” na precificação e que não há fundamentos que justifiquem uma disparada tão forte.

A indicação interna dada pelo ministro é de que este momento de turbulência é atípico e de que há uma “ação orquestrada” por parte de alguns agentes do mercado financeiro, que teriam, na sua visão, um viés político que estaria contaminando a análise técnica.

Por isso, leitura é de que esse pior momento vai passar e de que é preciso acreditar na eficácia das medidas apresentadas para a recuperação da confiança.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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