BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi alertado por lideranças do Congresso de que precisará entrar em campo para evitar que o pacote de corte de gastos enviado pelo governo seja desidratado durante a sua tramitação na Câmara e no Senado nesta semana.
Segundo relatos obtidos pelo Estadão, Haddad recebeu telefonema de uma liderança parlamentar com o alerta, especialmente depois da forte piora dos indicadores financeiros da economia brasileira nos últimos dias. Há no Congresso a sensação de que é melhor a Fazenda conduzir esse processo de negociação, para atenuar riscos e evitar perdas maiores, do que ser surpreendida caso a tramitação corra sem controle.
Nesta segunda-feira, o Banco Central fez leilões de dólar e ainda assim a cotação da moeda americana continuou em alta, e houve forte aumento dos juros negociados pelo mercado para carregar a dívida do Tesouro Nacional.
Embora o Ministério da Fazenda entenda que o pacote fiscal seja duro, com mudanças que atingem o salário mínimo, abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outras, a pasta não descarta o envio de propostas adicionais de ajuste para as contas públicas. Isso só vai acontecer, contudo, depois da tramitação e aprovação das medidas enviadas.
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O foco da equipe econômica neste momento é evitar a desidratação das medidas, que podem atingir, como mostrou o Estadão, o BPC, o Fundo Constitucional do DF e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), além dos supersalários e limitação da compensação de créditos tributários.
A interlocutores, Haddad tem dito que não faz sentido o Congresso reclamar que o pacote fiscal é frágil, para logo em seguida propor medidas que afrouxem ainda mais as regras. Essa tendência só reforça, na visão do ministro, a ideia de que o ajuste é sólido e que havia pouco espaço político para propostas mais duras.
Sobre a deterioração dos indicadores financeiros, principalmente dólar e juros futuros, técnicos da Fazenda e do Tesouro Nacional entendem que o mercado está “exagerando” na precificação e que não há fundamentos que justifiquem uma disparada tão forte.
A indicação interna dada pelo ministro é de que este momento de turbulência é atípico e de que há uma “ação orquestrada” por parte de alguns agentes do mercado financeiro, que teriam, na sua visão, um viés político que estaria contaminando a análise técnica.
Por isso, leitura é de que esse pior momento vai passar e de que é preciso acreditar na eficácia das medidas apresentadas para a recuperação da confiança.
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