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Repórter especial de economia em Brasília

Opinião | Lula e Sidônio desprezam o ‘macro’, mas vão colher aumento da inflação com a agenda micro

Marqueteiro vem avançando sobre as decisões de política econômica, com foco exclusivo de recuperar a popularidade do presidente

Foto do author Alvaro Gribel

O Banco Central tem um novo obstáculo para levar a inflação à meta. Trata-se de Sidônio Palmeira, o marqueteiro que agora chefia a comunicação do governo e que vem ampliando os seus tentáculos sobre a política econômica. Desde o anúncio da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, no final de novembro, quando Fernando Haddad foi obrigado a passar pelo constrangimento público de anunciar uma benesse no meio de um pacote fiscal, Palmeira passou a ser figura-chave nas decisões que deveriam caber exclusivamente ao ministro da Fazenda.

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Não há mais anúncio na economia que não tenha o dedo do marqueteiro e que não tenha como foco exclusivo recuperar popularidade para as eleições do ano que vem. Sidônio defende que o governo precisa de uma “marca” e por isso a agenda microeconômica vem ganhando destaque, com anúncio de medidas em série e direito a pronunciamento do presidente em rede nacional. A última proposta chegou de surpresa, com a liberação do saque-rescisão do FGTS para quem já havia optado pela modalidade de saque-aniversário.

A medida tem o potencial de injetar R$ 12 bilhões na economia e vai estimular o consumo das famílias em um contexto de inflação acima do teto da meta. Vem no momento em que o Banco Central eleva a taxa Selic justamente para esfriar o nível de atividade.

Não há mais anúncio na economia que não tenha o dedo do marqueteiro e que não tenha como foco exclusivo recuperar popularidade de Lula para as eleições do ano que vem. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O governo também aposta na ampliação do Auxílio Gás e no programa pé de meia, que são prioritários mas não têm recursos no Orçamento, como bem pontuou o colunista Carlos Andreazza, além da mudança no consignado para o setor privado e outras medidas para o crédito.

Só para constar: a concessão de crédito livre para as famílias brasileiras cresceu 14,6% em 2024, com aumento de 33,9% para a aquisição de veículos e 28,1% na aquisição de outros bens. Se há um problema na popularidade de Lula, ele não está na concessão de empréstimos.

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Lula esta semana desprezou a teoria macroeconômica, que, segundo ele, seria uma “bobagem”. Isso talvez explique por que o presidente cogita a adoção de medidas absurdas, como a ideia de taxar a exportação de alimentos, para forçar a queda de preço dos produtos. O resultado – ao contrário do que se pensa – seria uma redução da oferta no médio prazo, pelo desestímulo à produção dado pelo governo.

Lula e Sidônio parecem dois pilotos de avião que, sob o risco de queda da aeronave, resolvem apertar vários botões no painel para ver se algo de bom acontece. Na economia, o excesso de voluntarismo acaba sempre em inflação. A aposta na agenda micro tem tudo para dar errado.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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