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Opinião | PIB forte vai melhorar projeções do ano, mas colocar pressão por alta de juros pelo Banco Central

Crescimento acima do esperado no segundo trimestre pode levar economia a subir até 3% este ano e pressionar a inflação, que já se distancia do centro da meta

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

O IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre na manhã desta terça-feira, 3, e o número veio bem forte, superando a projeção da maior parte dos analistas: 1,4% de alta, na comparação com o trimestre anterior, e 3,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

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Com o dado acima do esperado, haverá agora uma onda de revisões para melhor nas projeções deste ano. Segundo o economista Sérgio Vale, da MB Associados, se hoje o Boletim Focus prevê alta de 2,46%, o mais provável é que, nas próximas semanas, a estimativa suba e fique entre 2,5% e até 3%. O Ministério da Fazenda, por sua vez, avisou que deve revisar o seu número de 2,4% para 2,9%.

O crescimento mais forte, por outro lado, vai colocar mais pressão sobre o Banco Central, para que inicie um novo ciclo de alta dos juros na reunião deste mês. Com o ritmo mais forte do que o esperado, e as projeções de inflação distantes do centro da meta de 3%, a tendência é que o BC procure “esfriar” um pouco a economia, para que a alta seja sustentável nos próximos trimestres, e a inflação não fuja do controle.

Equipe econômica pode comemorar o resultado, mas precisa ligar o alerta para a sustentabilidade dos números Foto: Wilton Junior/Estadão

“Vai haver uma onda de revisões para cima. O meu número já subi para 2,8%, mas isso coloca mais pressão no Banco Central. Com esse número, o ‘hiato do produto’ fica positivo e implica pressão inflacionária nos modelos do BC. Vai haver discussão sobre aumentar a Selic em 0,5% e não apenas 0,25%”, disse Vale.

O chamado “hiato do produto” é uma conta feita pelos economistas para tentar medir se o crescimento está acontecendo acima da capacidade de produção da economia.

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A composição do PIB divulgado nesta terça-feira foi boa, com aumento dos investimentos em 2,1%, e alta de 1,3% no consumo das famílias e de 1,3% no consumo do governo. Já entre os três principais setores da economia, houve crescimento de 1,8% da indústria, de 1% dos serviços, e retração de 2,3% na agropecuária. Tudo em relação ao primeiro trimestre.

Olhando por dentro os números da indústria, houve crescimento de 3,5% na construção civil, e alta de 1,8% na indústria de transformação, dois segmentos importantes para a economia. Vale diz que o terceiro trimestre também tem indicadores antecedentes positivos. “O terceiro trimestre está vindo forte também, com dados bons na indústria no interanual e no crédito, que acelerou em relação aos meses anteriores”, disse.

Dois problemas, contudo, continuam crônicos: houve queda de 16,8% para 16% na taxa de poupança, no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano anterior, e um pequeno crescimento na taxa de investimento, de 16,4% para 16,8%.

A queda da taxa de poupança indica que o País está sem recursos internos para financiar os investimentos por um período prolongado. Esse é um gargalo antigo da nossa economia, que atravessa vários governos. O recomendável é que ambos os números fiquem pelo menos acima de 20%.

A equipe econômica pode comemorar o resultado, mas precisa ligar o alerta para a sustentabilidade dos números. O crescimento do consumo do governo indica que os estímulos fiscais continuam fortes e podem ajudar a pressionar a inflação.

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Sem a ajuda da política fiscal, caberá ao Banco Central o papel de “chato da festa”, como já apontou o futuro presidente do órgão, Gabriel Galípolo, com um novo aumento da taxa Selic.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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