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Análise|Trump pode levar a presidência e ter maioria no Congresso, com maior risco para a economia global

Atentado contra o candidato republicano torna mais provável a chance de ele levar não só a Presidência, mas ter a maioria nas duas Casas, podendo aprovar medidas econômicas inflacionárias

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

O atentado do último sábado contra Donald Trump aumentou a chance de que ele leve não apenas a Presidência dos Estados Unidos, mas consiga também formar maioria na Câmara e no Senado. Esse era o cenário temido pelo economista-chefe para o banco UBS nos EUA, Jonathan Pingle, que falou ao Estadão no início do mês passado (o receio também valia para uma vitória democrata ampla).

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Em resumo, o ex-presidente pode controlar o Executivo, o Legislativo e ainda ter a anuência da Suprema Corte, que tem entre os seus ministros maioria indicada pelos republicanos. Seria uma verdadeira “varredura vermelha” no país, como definiu o banco.

Por um lado, o pacote econômico de Trump é inflacionário. Ele quer aumentar barreiras comerciais, o que irá encarecer os custos de produção nos EUA. Também que impedir a entrada de imigrantes, que hoje têm ajudado a segurar a inflação de serviços, mesmo com o desemprego historicamente baixo. Além disso, ele promete cortar impostos, apesar do forte déficit fiscal do país. Tudo isso irá pressionar a curva de juros dos EUA, o que tende a fortalecer o dólar.

O atentado do último sábado contra Donald Trump aumentou a chance de que ele leve não apenas a Presidência dos Estados Unidos, mas consiga também formar maioria na Câmara e no Senado. Foto: Charles Rex Arbogast/AP

Mas, por outro lado, aponta a Gavekal Research, umas das principais consultorias financeiras do mundo, Trump precisa do dólar fraco para poder ter chances de vencer a China na competição pelo comércio internacional. Um processo de reindustrialização no país, dentro da retórica “America First” (América primeiro), só funcionaria com uma moeda competitiva internacionalmente.

“Combine o mercantilismo de Trump com a probabilidade de que os cortes fiscais serão prolongados, e é difícil imaginar que os estrangeiros farão fila para comprar títulos dos EUA. Em suma, uma presidência Trump provavelmente será de baixa para o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA”, disse em relatório o economista Louis-Vincent Gave.

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Essa discrepância foi apontada pelo diretor de política monetária do Banco Central brasileiro, Gabriel Galípolo, durante evento esta semana. Galípolo, que é cotado para assumir a presidência do banco, alertou que esse cenário exige maior “cautela” pelo BC. Em outras palavras, isso pode significar juros mais altos por aqui, até que o mundo entenda qual será o efeito líquido para a economia de uma nova vitória do candidato republicano.

O exemplo prático já foi visto esta semana: o mercado voltou a precificar alta chance de cortes de juros pelo Fed em setembro, mas as moedas emergentes não tiveram alívio.

O que o governo brasileiro pode fazer nesse cenário global mais incerto é focar no ajuste fiscal. Na próxima segunda-feira, o governo vai apresentar o terceiro relatório bimestral de receitas e despesas e o desejo da equipe econômica (Planejamento e Fazenda) é apresentar um número forte de bloqueio de gastos, mas também de contingenciamentos, o que reforça o compromisso com a meta fiscal de déficit zero. Lula tem poucos dias até lá para se convencer da importância da medida. Com o risco de uma vitória forte de Trump nos EUA, é melhor ele se apressar.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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