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Amaro pede recuperação extrajudicial com dívidas que somam R$ 244,5 milhões

Companhia de moda cita como motivo para o pedido ações que sofre na Justiça e que ‘colocam em risco’ suas atividades

Foto do author Talita Nascimento
Foto do author Cynthia Decloedt
Foto do author Altamiro Silva Junior
Atualização:

A varejista de moda Amaro pediu à Justiça de São Paulo a homologação de seu pedido de Recuperação Extrajudicial, processo em que a empresa faz acordo com seus credores. A companhia soma dívidas de R$ 244,5 milhões, sendo R$ 151,8 milhões em dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões com fornecedores.

O plano envolve pagamentos somente de credores quirografários, os que não possuem um direito real de garantia, e adesão de 41,63% deles.

Dentre os motivos para que o pedido seja concedido rapidamente, a companhia cita ações que sofre na Justiça, “que colocam em risco as atividades empresariais, em virtude da iminência de atos de constrição de patrimônio, falência e/ou despejo das lojas”.

A companhia pede que essas ações sejam suspensas por 180 dias com a homologação do plano.

Fundo

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Em outubro de 2021, a Amaro contratou um banco de investimento para ajudar a empresa a achar um sócio e se capitalizar. Em fevereiro de 2022, um fundo (cujo nome não foi informado pela companhia) se mostrou interessado e, dois meses depois, assinou um contrato de exclusividade para participar do futuro aporte na empresa.

Enquanto não fechava o negócio com o fundo, a Amaro recebeu um empréstimo-ponte do Itaú e do Santander. Mas na segunda metade do ano passado, por conta da instabilidade no mercado financeiro e, especialmente, da crise nos setores de tecnologia e nos fundos de venture capital - que compram participação em empresas de tecnologia - o investidor desistiu do aporte. A alegação teria sido de que todos os seus novos investimentos seriam adiados para 2023.

Sem o dinheiro desse fundo, a Amaro foi “buscar de imediato outros investidores no mercado”, como descreve no pedido à Justiça. “Mas as condições de mercado e a alta taxa de juros tornaram esse processo muito demorado.” Como consequência, começou a cortar custos, reduzir o tamanho de sua estrutura e aumentou a austeridade nos gastos.

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Lista de credores da Amaro inclui bancos como Itaú, Santander e BTG Pactual Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A varejista tentou prorrogar com os bancos o vencimento das linhas de crédito, mas não conseguiu. Assim, começou a atrasar o pagamento de seus fornecedores e prestadores de serviços. Como resposta, eles suspenderam a entrega de novos produtos, o que dificultou ainda mais as coisas.

Nessa situação, a prioridade da empresa foram os gastos com empregados e as despesas essenciais para garantir a operação da varejista, além de tentar pagar os empréstimos bancários. “Os juros elevados criaram uma pressão enorme no caixa da companhia”, conta a Amaro. Apenas em 2022, foram desembolsados cerca de R$ 24,5 milhões em pagamentos de juros.

Na lista de credores da companhia, constam dívidas de cerca de R$ 49 milhões ao Itaú; R$ 37 milhões ao Santander; R$ 18 milhões ao BTG Pactual; R$ 12 milhões ao banco ABC Brasil; e R$ 1 milhão ao Safra.

Dentre os motivos para que o pedido seja concedido rapidamente, a companhia cita ainda ações judiciais que sofre na Justiça, “que colocam em risco as atividades empresariais, em virtude da iminência de atos de constrição de patrimônio, falência e/ou despejo das lojas”. A empresa pede, portanto, que essas ações sejam suspensas por 180 dias com a homologação do plano.

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A varejista acrescenta que o ambiente de juros em dois dígitos, inflação alta e reajustes elevado dos contratos de aluguel criaram um ambiente difícil para os negócios. Ao mesmo tempo, houve a entrada de grandes grupos asiáticos no mercado de moda online brasileira que, em razão de vantagens tributárias, conseguem ofertar os produtos com preços bem menores. Essas empresas da Ásia também inflam os preços da publicidade em grandes redes sócias e no Google, segundo o pedido da Amaro, o que torna muito caro fazer propaganda.

Modelo de negócios

A companhia adota um modelo de vendas baseado no comércio eletrônico, apesar de também ter lojas físicas no País, nas quais os consumidores podem provar as peças de roupa antes de comprá-las.

As lojas físicas têm computadores para mostrar o estoque e também para fazer às vezes dos atendentes do caixa. Ou seja, as transações podem ser feitas online.

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Criada em 2012, a companhia foi uma das primeiras do segmento de moda a promover esse tipo de integração do comércio físico com o digital. Porém, assim como outras empresas de tecnologia brasileiras, a Amaro foi afetada pela alta taxa de juros e a piora no consumo, devido à baixa liquidez do mercado – medida para conter o avanço da inflação no País.

A empresa já foi considerada um ativo valioso para redes de moda listadas na Bolsa. No entanto, o valor da companhia era tido como alto, o que acabou afastando possíveis compradores.

Loja Amaro no BH Shopping, em Minas Gerais Foto: Divulgação

O plano

O plano extrajudicial desenhado para solução dos problemas financeiros da varejista de moda prevê o pagamento dos créditos quirografários, somando pouco mais de R$ 244 milhões, de duas formas. Os fornecedores parceiros serão pagos conforme a opção da “tranche A” enquanto os credores financiadores parceiros, nos termos da “tranche B”.

A tranche A prevê pagamento do valor equivalente a 85% (oitenta e cinco por cento) dos créditos corrigido pela variação do CDI, e pago em uma única parcela no prazo de 5 (cinco) anos após a referida publicação, observada a possibilidade de antecipação em caso de ocorrência de qualquer evento de liquidez.

A tranche B prevê o pagamento do valor equivalente a 15% (quinze por cento) dos créditos de acordo com as seguintes condições: carência de 18 (dezoito) meses a contar da publicação da decisão de homologação remuneração pela variação do CDI, incidente a partir da referida publicação até a data do efetivo pagamento.

O documento diz que os encargos serão capitalizados ao principal durante o período de carência indicado e, após o início dos pagamentos, serão aplicados sempre sobre o saldo devedor do mês imediatamente anterior, sem capitalização, e pagos junto com as parcelas mensais de principal; e amortização do saldo de principal da tranche B em 42 (quarenta e duas) parcelas mensais, iguais e sucessivas, com início dos pagamentos após o fim do período de carência.

A companhia ainda sinaliza planos de pagamento para parceiros de marketplace e “fornecedores consignados parceiros”. O plano teve adesão de 41,63% dos credores quirografários.

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