‘Amazônia não é só a floresta, é um desafio humanitário’, diz diretor da IFC, do Banco Mundial

Para Manuel Reyes-Retana, projetos na região não podem se restringir somente a evitar impactos negativos na floresta, mas também ter impacto positivo e envolver concessões das empresas

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Foto do author Cynthia Decloedt

O diretor regional para América Latina da International Finance Corporation (IFC), braço de financiamento no setor privado do Banco Mundial, Manuel Reyes-Retana, acaba de integrar o Brasil em suas atribuições diretas. O movimento faz parte de mudanças na estrutura de comando do IFC que ocorreram também em outras regiões do mundo onde a organização atua. Mas, no caso de Reyes-Retana, o Brasil chega até ele em um momento dramático, no qual as queimadas, secas e enchentes atingem patamares inéditos e alarmantes.

Para o executivo, ainda que acompanhado de desafios, essa será uma oportunidade de ingressar em uma missão com a qual se identifica desde criança: a Amazônia. A região, em toda a sua extensão, envolvendo não só o Brasil, mas outros sete países, é, ao lado das mudanças climáticas, uma das principais missões que Reyes-Retana recebe ao acolher o novo posto.

Para Reyes-Retana, as empresas têm também de 'fazer concessões' ao investir em projetos na Amazônia Foto: Divulgação/IFC

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“A Amazônia é o que chamamos de bem público mundial”, disse em entrevista exclusiva concedida ao Estadão/Broadcast. Ele lembra dos questionamentos que fez quando, já na cadeira da IFC, teve oportunidade de visitar a Amazônia. O encontro foi em companhia do gerente-geral do BID Invest, James Scriven, uma organização similar ao IFC, mas ligada ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Banco Mundial e BID desenvolvem uma agenda conjunta com foco no desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Mas o que é o desenvolvimento sustentável para uma região tão relevante para mitigar o aquecimento global? Que tipo de desenvolvimento a Amazônia precisa ou sua população deseja? Qual é o equilíbrio?

Segundo ele, para responder a essas questões levantadas logo nas primeiras visitas à região, as reflexões têm exigido superar e reescrever alguns dos padrões de sustentabilidade já estabelecidos na organização, os quais, afirma, são bastante rígidos. “A Amazônia não é somente a floresta, é um desafio humanitário”, diz.

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Globalmente, assim como outros bancos de fomento, a IFC funciona como um elo entre investimentos em projetos pouco atraentes ao capital privado, mas que representem ganhos a desafios enfrentados pela sociedade. No caso da Amazônia, essa questão é ainda maior.

“Queremos ter certeza de que o que fizermos na Amazônia não se restrinja somente a evitar impactos negativos na floresta, mas que, na realidade, tenham um impacto positivo”, afirma. E isso envolve concessões também das empresas que recebem o suporte financeiro da IFC e, paralelamente, projetos que sejam rentáveis, acrescenta.

“Há um grande número de doadores interessados em recuperar terras degradadas, mas precisamos criar projetos que sejam economicamente viáveis e rentáveis para não depender somente de recursos públicos e doadores”, diz. Reynes-Retana lembra que a área de terras degradadas e desmatadas na Amazônia são comparáveis a países na Europa, por exemplo. Por isso, a lógica do economicamente viável não pode ser evitada.

Nesse sentido, Reyes-Retana diz que a IFC faz agora um exercício para recriar padrões de investimento que superem em alcance — e não somente em restrições — os que a instituição já tem e possam resultar em impacto positivo na vida das pessoas que vivem e dependem da floresta, desincentivando o desmatamento, tráfico de animais, de drogas, degradação dos rios.

Outra linha tênue traçada pela organização atualmente é entender quais são os projetos que terão o impacto esperado. Para ele, o suporte dado pela IFC e o BID Invest como âncoras em uma captação de R$ 1,3 bilhão por meio de emissão de debêntures feita em julho pela Natura é um bom exemplo do tipo de iniciativas e projetos que se encaixam nessa lógica de desenvolver a região. Os recursos vão fomentar o desenvolvimento de bioingredientes da Amazônia.

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Ao aportar recursos em parte da emissão de debêntures, as duas organizações trazem segurança e mitigam riscos para a entrada de outros investidores. Na ocasião do aporte, a vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura, Silvia Vilas Boas, deu um depoimento que bem ilustra tais dificuldades: “Quem quiser entrar na Amazônia, tem de se estruturar para lidar com a realidade da Amazônia”, que não vai se adaptar à realidade do mercado financeiro. É sobre isso que Reynes-Retana se refere quando afirma que “as empresas têm também de fazer concessões”.

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O executivo diz que outros projetos que a IFC está olhando envolvem cadeias de fornecedores na Amazônia de grandes empresas e enxerga oportunidades também no mercado de crédito de carbono. “Temos muitos bancos parceiros e companhias do setor privado interessados em fazer algo na Amazônia, mas que não sabem exatamente como, e nosso papel é mostrar a eles como mitigar riscos e mostrar os resultados”, afirma.

Reynes-Retana diz que nem todas as grandes questões que envolvem os desafios de investir de maneira sustentável na Amazônia podem ser respondidas no momento. Mas cita a grande missão que vem sendo expressa pelo Banco Mundial recentemente, de atacar a pobreza para se chegar a um planeta habitável, exigindo parcerias não imagináveis, novos modos de trabalho e pensamento. “Talvez existam diversas formas para endereçar problemas, como o transporte das pessoas, e ajudá-las a ter acesso à saúde e educação sem afetar a floresta”, diz.

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