‘Americanas sem vergonha’, gritam manifestantes que protestam contra a varejista no Rio de Janeiro

Representantes sindicais dos empregados se manifestaram antes de uma negociação marcada para 12h com a diretores da empresa; sindicalistas defendem a manutenção de empregos e responsabilização dos principais acionistas

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RIO - Aos gritos de ”vergonha, vergonha, Americanas sem vergonha”, funcionários e integrantes de sindicatos de empregados do comércio protestam na manhã desta sexta-feira, 3, em frente a uma loja da empresa, na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro. Uma das faixas, com fotos dos “acionistas de referência” Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto “Beto” Sicupira sorridentes, perguntava: “Bilionários, estão rindo de quê!?”

O ato antecedeu uma reunião entre lideranças sindicais e representantes da diretoria da Americanas, marcada para as 12h também no Centro. Os manifestantes pedem esclarecimentos sobre a situação da empresa e a recuperação judicial que a empresa monta, após a revelação de rombo contábil de R$ 20 bilhões e a comunicação de uma dívida total reconhecida de R$ 47,9 bilhões.

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Pouco antes das 10h, um grupo com cerca de 200 manifestantes marchou da Rua André Cavalcanti, na Lapa, até à loja da Americanas que fica próxima à Cinelândia. O espaço abrigava uma unidade da icônica varejista Mesbla, que faliu na virada dos anos 2000. No local mais uma centena de manifestantes aguardavam o grupo.

Segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer, o objetivo é chamar a atenção da sociedade para a importância da manutenção dos empregos e a necessidade de proteção dos trabalhadores antes mesmo da quitação de dívidas com credores, conforme prega a legislação.

O presidente do Sindicato dos Comerciários, Màrcio Ayer, disse que objetivo é chamar a atenção da sociedade Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“São mais de 44 mil empregos diretos e, somando os indiretos, mais de 100 mil postos de trabalho. Caso seja comprovada a fraude, queremos a punição dos controladores e principais acionistas e a proteção dos funcionários”, disse Ayer.

O sindicalista acrescentou que já existe uma ação civil publica (ACP) protocolada na Justiça Federal reivindicando o bloqueio dos bens da empresa para pagamento e proteção dos funcionários da Americanas.

“Vamos brigar pela manutenção de todos os empregos. Há um clima de incerteza e insegurança sobre o futuro, porque a empresa já começou a rescindir contratos com terceirizados. Isso claramente prejudica uma cadeia de empregos muito grande”, afirmou.

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Ele participa da reunião com representantes de Americanas, acompanhado de uma funcionária da empresa que é diretora sindical e lideranças de quatro centrais sindicais: UGT, CUT, CTB e Força Sindical.

Histórico

A Americanas monta uma proposta de recuperação judicial (RJ) que lhe permita arcar com dívidas de R$ 43 bilhões declaradas à Justiça. O processo é capaz de evitar a falência, desde que seja acordado com credores. Pela lei, o mecanismo da recuperação estipula uma ordem de prioridade para os pagamentos, com os funcionários à frente dos credores.

No entanto, muitas empresas credoras, fornecedores e sobretudo bancos fazem uma blitz na Justiça para bloquear valores da empresa ou acionistas de referência e garantir a antecipação de pagamentos. Algumas ações têm como alvo as fortunas de Lemann, Sicupira e Tellesm que são os maiores acionistas da empresa. Multibilionários, eles reduziram sua participação acionária na empresa anos antes do escândalo.

O aval da Justiça à recuperação judicial veio em 19 de janeiro, após pedido da varejista, que era dado como certo por analistas e agentes de mercado. A crise começara pouco mais de uma semana antes, em 11 de janeiro, quando o então presidente da empresa, Sergio Rial, renunciou ao cargo e revelou que a varejista mascarou, por anos, dívidas equivalentes a R$ 20 bilhões em seu balanço. Oficialmente, Rial estava no cargo somente há nove dias.

Funcionários da Americanas protestaram contra a empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O escândalo contábil fez derreter o valor de mercado da empresa e inaugurou uma guerra judicial entre a varejista e seus maiores credores, como o banco BTG, um dos mais atuantes. Os maiores bancos do País, como Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Caixa e Safra também figuram nessa lista de credores.

Essas instituições financeiras concediam os empréstimos capazes de fazer o negócio girar sob a prática de “risco sacado”, quando a empresa ou seus fornecedores recorrem a bancos para adiantar pagamentos e dar continuidade à operação. Quando os fatos vieram à público, credores começaram acionar cláusulas de antecipação de pagamento dos empréstimos, rebatido com um um pedido de blindagem dos ativos e recursos da empresa, em uma alternância de decisões que tem dado o tom da disputa.

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