RIO - Sergio Rial, ex-presidente da Americanas que informou sobre o rombo contábil da varejista, disse nesta terça-feira, 28, que foi avisado apenas no dia 3 de janeiro por um diretor da Americanas sobre a necessidade de maior esclarecimento sobre a situação da companhia. Ele falou como convidado da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em sessão para tratar do endividamento da Americanas, atualmente em recuperação judicial. Rial deixou o comando da varejista apenas dez dias depois de assumir oficialmente, em 1.º de janeiro.
“No dia seguinte (ao dia 3), ele disse que eu não havia entendido direito a apresentação aquilo que o que foi apresentado como dívida bancária no dia 27 não estava devidamente registrado na rubrica bancos. Então, a dívida bancária que no terceiro trimestre era R$ 19 bilhões - e o número que eu vi na apresentação era R$ 15,9 bilhões -, a dívida bancária dessa empresa se torna R$ 35 bilhões ou R$ 36 bilhões, com patrimônio líquido de R$ 16 bilhões. A partir daquele momento, tenho absoluta consciência de que a empresa tinha uma estrutura patrimonial de insolvência”, afirmou aos parlamentares.
Em sua fala no Senado, Rial contou que teve 21 reuniões com a diretoria da Americanas a partir de setembro de 2022, quando se preparava para assumir a liderança da companhia. A Americanas tinha acionistas de referência de reputação inquestionável, disse, sobre o convite para liderar a varejista.
‘Centralizador’
O ex-presidente da Americanas afirmou que o ex-CEO Miguel Gutierrez era muito centralizador e não permitiu que participasse da última reunião do ano. Também disse que não havia material para divulgação de resultado e tampouco disposição para abertura das contas e verificação da dinâmica de controle financeiro.
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“Gutierrez fez parte da construção da empresa, mas não fez a sucessão, como imaginada por ele”, apontou Sérgio Rial. “Tendo estado na empresa por tanto tempo, ele era centralizador”, disse. “As informações eram muito bem controladas por ele.”
De acordo com o executivo, todas as informações do balanço e da situação da Americanas foram obtidas com dificuldade. “Dos dias 4 a 11, não recebi nada no papel. Extraí as contas com o ex-diretor financeiro”, comentou. “Não havia predisposição para explicarem o que aconteceu.”
Ele contou que no dia 5 de janeiro, quando ainda estava tomando pé da situação da Americanas, pediu que fosse preparado um balancete - sem vazamento de informações - e, no dia seguinte, solicitou que os executassem explicassem a estrutura do balancete. A partir daí, o quadro foi a apresentado ao presidente do conselho, Carlos Alberto Sicupira, e aos auditores.
“Todos os lançamentos eram lançados como redutores na conta fornecedor em vez vez da dívida bancária”, afirmou o executivo. “Percebi que a estrutura patrimonial era de insolvência.”
No dia 11, contou Rial, foi feita uma reunião com a auditoria PwC, que contudo não levou explicações sobre o endividamento.
Então, foi feita uma checagem nos sistemas do Banco Central, na qual foi verificada a existência da dívida bancária.
Naquele momento, conforme o executivo, ainda não era possível ter precisão das cifras, mas foi tomada uma decisão de mencionar ao menos o número em ordem de grandeza. “Era melhor do que não levar um número”, afirmou Rial, sobre o anúncio das inconsistências contábeis.
Também foram convidados para falar comissão do Senador o atual presdente da Americanas, Leonardo Pereira; presidente da Comissão de Valores Mobiliários, João Pedro Nascimento, e o presidente da Febraban, Isaac Ferreira. Também convidada, a PwC não enviou representante. O ex-CEO Miguel Gutierrez não foi localizado.
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