A vacilante economia norte-americana não vai tirar o brilho do mercado acionário brasileiro em 2008. É nisso que apostam, no momento, os analistas que prevêem valorização significativa da Bolsa de Valores de São Paulo. Para os mais otimistas, o crescimento sustentado pela demanda interna ajuda o país a se diferenciar no momento de turbulência externa. O Merrill Lynch estima retorno de 26 por cento, em moeda local, do mercado acionário da América Latina neste ano. Os destaques seriam Brasil, com ganho de 28 por cento, e México, com alta de 23 por cento. "Liquidez em alta e crescimento em baixa definem o ambiente global, formando o segundo melhor cenário possível para a América Latina em comparação ao primeiro trimestre de 2007", avaliou a instituição em relatório desta semana. "Na média, definimos o cenário global como positivo para a região: com crescimento global de 4,8 por cento ou de 5,6 por cento sem considerar os EUA, liquidez para mercados emergentes, a perspectiva de alta de commodities preservada e forte crescimento na China." O analista Hamilton Moreira Alves, do BB Investimentos, não acredita em alta consistente da Bolsa de Valores de São Paulo no curto prazo, mas prevê ganho de 30 por cento até o final do ano --quando o Ibovespa estaria em 83 mil pontos, frente à faixa de 59 mil desta terça-feira. "Para a bolsa se firmar, só a partir de abril ou maio. Até lá, a gente precifica toda essa reversão norte-americana", afirmou. "Passado este primeiro semestre de preocupação com os EUA, o segundo semestre traz a perspectiva de investiment grade para o Brasil e tem também a taxa de juros" atrativa em comparação com outras economias. BOLHA ACIONÁRIA? A turbulência externa provocou este mês saída líquida de 1,8 bilhão de dólares em recursos aplicados em ações e renda fixa no Brasil, segundo o Banco Central. A cifra é significativa, mas para o ano o BC projeta superávit de 26 bilhões de dólares nesses ativos. No ano passado, os investimentos estrangeiros em ações negociadas no Brasil alcançaram 24,6 bilhões de dólares. Em títulos de renda fixa, a cifra foi de 20,5 bilhões de dólares. Para a Advisor Asset Management, a desaceleração da economia norte-americana fará com que os investidores externos continuem buscando alternativas de investimentos entre os emergentes --o que pode não ser exatamente uma boa notícia. "O ano de 2008 será o da bolha das bolsas de emergentes, porque as ações vão subir por conta do fluxo de investidores e não do crescimento dos lucros das empresas", alertou Andre Delben, sócio responsável pela área de gestão da Advisor. Segundo o gestor, a expansão dos lucros, especialmente nos setores de varejo e construção civil, já está embutida nos preços das ações. Já André Simões Cardoso, gestor de fundos da Modal Asset Management, vê o Brasil ainda muito colado ao desempenho norte-americano. "Os EUA estão passando por um problema grave, uma crise de crédito séria que afeta a saúde do sistema financeiro."
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.