O primeiro ano do governo Lula terminou com crescimento de 2,9%, bem acima do que se imaginava no começo do ano. Boa parte dessa surpresa se deu por conta das commodities, tanto agrícolas quanto extrativas, que tiveram os dois melhores desempenhos do ano.
Na verdade, o impacto das commodities já aparecia nos anos anteriores, mas de forma difusa. Como o aumento se deu com intensidade em preço e câmbio, isso não apareceu com força no dado agro das Contas Nacionais. Apenas com a supersafra do ano passado isso ficou mais claro. Mas o fato é que as commodities têm sido o carro chefe do crescimento nesse período e, por serem menos exuberantes este ano do que antes, evitarão que o crescimento de 2024 seja tão robusto como no ano passado. A cadeia de petróleo será a exceção, com mais um ano de força e se candidatando a ser o setor que mais vai crescer no País.
Se não tem commodities na intensidade do passado, como crescer esse ano? Do ponto de vista macro, o desafio fiscal segue na mesma, sem novidades que pudessem mudar o ritmo de crescimento deste ano. Juros em queda devem recuperar consumo no segundo semestre. Inadimplência, após o Desenrola e os precatórios, também alivia o consumidor, especialmente no final do ano. Mercado de trabalho começou 2024 forte, com expansão da ocupação e queda no cálculo da taxa de desemprego dessazonalizada. A reforma tributária ainda não repercute diretamente na economia, mas começa a movimentar decisões de investimento e trazem horizonte de maior produtividade.
O saldo disso é que podemos crescer 2% este ano, mas para isso os desafios vão muito além de um ajuste fiscal parcial e dependente apenas de arrecadação. Uma nova regra fiscal deverá vir em 2027 para ajustar as ineficiências da atual, mas há uma visão de que não há descontrole, o que é minimamente positivo. Com a reforma tributária, que ajuda as empresas, o governo deveria seguir no foco iniciado no ano passado, de diminuir estruturalmente o spread bancário, ajudando as pessoas. Parece haver clareza de que esse é o caminho.
A conjunção de maior eficiência empresarial, via reforma tributária, com queda dos juros na ponta para o consumidor teria um papel importante no crescimento de longo prazo. Mas para a consolidação disso, a estabilidade macro segue sendo essencial e, por isso, para Lula replicar suas elevadas taxas de crescimento nos primeiros mandatos, vai precisar fazer um esforço fiscal maior do que tem feito.
* É economista-chefe da MB Associados
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