Tivemos finalmente a tão ansiosamente esperada decisão sobre as metas de inflação. Dada toda a polêmica sobre a questão no início do ano, podemos dizer que o resultado final foi positivo e deve contribuir também para a esperada queda da taxa Selic.
Com as projeções de inflação já apontando para o nível da meta atual, não faz muito sentido rever esses parâmetros neste momento. Mexer na meta (ou na banda de flutuação) impactaria negativamente as expectativas de inflação, já que não haveria como afastar a crença de que isso estaria acontecendo simplesmente para tentar forçar uma queda mais rápida dos juros.
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Isso dito, quando a inflação corrente estiver, de fato, perto da meta, não está descartada que a questão não será revista para os anos além de 2027, já que afirmar que uma mudança neste momento não seria conveniente não é igual a afirmar que o nível de 3% para a meta de inflação é o patamar ótimo para a economia brasileira.
A adoção da meta contínua formaliza algo que já era feito na prática, mas há ainda um ganho em ter a prática sendo adotada formalmente. Ainda devemos ver como o Banco Central deve “prestar contas” nesse novo sistema, algo que ainda terá que ser definido.
Passar para a meta continua somente a partir de 2025 surpreendeu: não há razão técnica impedindo que essa sistemática fosse adotada desde já. A razão dada, de que seria para esperar pelo novo presidente da autarquia, espelha a ideia de “não mudar as regras do jogo” dentro da atual gestão, mas pessoalmente não vejo o porquê deste paralelo com uma prática parlamentar.
Finalmente, devemos ver alguma melhora pontual na precificação da curva e expectativas de inflação, ajudando a reforçar o argumento para corte de juros já no Copom de agosto, apesar do resultado desta reunião estar em grande parte dentro do que era esperado pelo mercado. / EX-DIRETOR DO BANCO CENTRAL
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