O chairman do BTG Pactual, André Esteves, disse nesta terça-feira, 14, que há um processo de desinflação no mundo, mas que os mercados estão com um otimismo exagerado sobre a rapidez com que a economia deve se recuperar. Na visão dele, deve haver uma recessão e mais desemprego que o previsto. Ele participa de evento organizado pelo banco na manhã desta terça.
“Os mercados estão vendo que vai dar uma ‘desaceleradinha’, vai desinflacionar, não vai ter muito desemprego e não vai ter recessão, que tudo virou uma maravilha. Não sei se é minha formação brasileira, mas acho que está bom demais para ser verdade. Acho que vai ter um pouco mais de dor para consertar isso”, afirmou Esteves.
Brasil
Na avaliação do executivo, é importante que a política monetária não se esqueça do passado inflacionário brasileiro “Somos um ‘alcoólatra razoavelmente curado’. Essa tese de ter um pouco mais de inflação que o juro vai baixar, acho uma tese perigosa para quem tem um passado como o nosso”, diz. Ele acrescenta que a experiência mostra que quando se cruza um certo patamar de inflação - e Esteves menciona ser aproximadamente 4% -, “gatilhos são disparados”, o que faz o combate à inflação ser “muito mais difícil”.
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Esteves ainda afirmou que “para quem está preocupado com o social, o mais penoso de todos os impostos é a inflação. Além de provocar desigualdade, provoca pobreza, é extremamente injusto com quem prejudica”.
Durante o painel, ele disse achar “louvável e elogioso” a preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o social, embora se preocupe com a “ansiedade” do político. “Acho que o presidente tem uma natural ansiedade pelo momento de vida, por tudo que passou, por uma experiência pregressa em atender a população que ele vê como seu objetivo de governo”, disse Esteves. “O risco é essa ansiedade tentar buscar um atalho. E meu medo dessas teorias que pregam uma facilidade é trazer a sedução do atalho, pois é apenas um atalho que não vai levar a lugar nenhum”, avalia.
Arcabouço fiscal
Esteves também afirmou que o novo arcabouço fiscal proposto pelo governo terá o desafio de indicar uma trajetória sustentável da dívida para o Brasil.
“Qual é o objetivo? Mostrar aos agentes econômicos e políticos, locais e internacionais, que o Brasil tem uma trajetória sustentável de dívida. Isso, sim, acho que tem efeito muito grande sobre as expectativas e é um teste para este governo”, disse.
O sócio sênior do BTG disse considerar que o Congresso está maduro para adotar um novo arcabouço fiscal, que seja simples e cumpra essa função. Ele argumentou que é válido propor uma revisão do teto de gastos, vigente desde 2016, mas lembrou que a regra teve efeito grande de reduzir a trajetória das despesas.
Esteves criticou ainda a visão de alguns economistas de que o nível de endividamento do Brasil não importa. “Aqueles que acreditam que pode se endividar sem parar não conhecem o funcionamento do mercado.”
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