O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, estima que o mercado deve consumir entre 200 mil a 300 mil veículos a mais neste ano em razão do pacote anunciado hoje, 25, pelo governo, dependendo de como as medidas serão implantadas.
Pela manhã, o vice-presidente Geraldo Alckmin informou que os preços dos automóveis de até R$ 120 mil serão reduzidos de 1,5% a 10,96%, mas os detalhes de como serão aplicadas as medidas serão definidos ao longo das próximas duas semana.
Para isso, as medidas de corte de impostos (IPI, Pis e Cofins) precisariam ter duração de pelo menos um ano. O prazo de validade ainda não foi definido pelo Ministério do Desenvolvimento, que está à frente desse processo.
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Segundo Leite, três montadoras que pretendiam anunciar paradas de produção nos próximos dias suspenderam as medidas. Uma delas é a Volkswagen, que cancelou férias coletivas antes agendadas para sua fábrica de Taubaté (SP). Segundo ele, só neste ano já ocorreram 14 paralisações de fábricas.
As medidas, diz Leite, não incluem qualquer compromisso das montadoras e concessionárias em relação a redução de margens de lucro nem de manutenção de empregos, embora o tema tenha sido tratado com o presidente Lula.
Em evento na sede da Fiesp na tarde de hoje, onde Leite falou com a imprensa, o presidente Lula voltou a dizer que “carro de R$ 80 mil não é popular, é carro para a classe média”. Na parte da manhã, em Brasília, ele se reuniu com montadoras mas quem fez o anúncio das medidas foi o vice-presidente, que também é ministro do Desenvolvimento (Mdic).
O maior corte deve ocorrer nos preços dos modelos de entrada, os mais baratos à venda no País, hoje em R$ 69 mil. Carros de até R$ 80 mil também terão índices superiores de desconto, mas todos terão de atender metas sociais (preços mais baixos), eficiência (menos emissões) e nacionalização (maior conteúdo de peças fabricadas no Brasil).
É provável que tenha modelos à venda por menos de R$ 60 mil, afirma o executivo, pois cada empresa poderá definir estratégias de preços. Ele também acredita que fabricantes que hoje não têm modelos na faixa de preço que será beneficiada, poderá se interessar em lançar produtos nessa linha.
Além da redução tributária, as empresas poderão realizar vendas diretas, feitas pelas montadoras, sem a intermediação do concessionário, que fará a entrega do modelo e se responsabilizará pela manutenção.
Leite informa que Banco do Brasil e possivelmente a Caixa estão avaliando formas de “facilitar o crédito para a compra de veículos de até R$ 120 mil”. Uma das medidas sugeridas pela Anfavea, de uso de parte do FGTS para a compra de carros novos, não foi aceita. Também não há previsão de participação dos Estados com redução de ICMS.
“Não haverá nenhuma alteração nos veículos para baratear custo no nível de tecnologia, segurança e questões ambientais”, diz o executivo. Cada empresa, porém, poderá adotar medidas alternativas. O presidente da Stellantis, Antonio Filosa, citou recentemente como exemplo a substituição do tipo de tecido dos bancos para algum menos sofisticado.
Leite diz ainda que as medidas podem contribuir com a recuperação da indústria. “As fabricantes operam hoje com 50% de ociosidade, seja por problemas globais mas também pelas taxas de juros altas”.
Vendas estão paradas
O presidente da Anfavea afirma que, nos últimos dias, as vendas de carros novos caíram bastante porque vários consumidores, principalmente as locadoras, suspenderam compras à espera do pacote. Para que a paralisação não se mantenha ao longo das próximas semanas, ele acredita que as concessionárias adotarão formas de efetivar negócios, como projetar os novos preços ou, eventualmente, aceitar encomendas.
Em nota, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) informa que mas medidas são positivas, mas ainda existem pontos a serem definidos que permitirão melhor análise.
“A Fenabrave acredita que uma provável redução dos preços dos carros a patamares abaixo de R$ 60 mil, se atrelada a um crédito mais farto e barato, possa alcançar os consumidores que hoje estão fora da faixa de consumo de automóveis zero”, diz a nota.
A entidade acrescenta, contudo, que “não se pode fazer projeções e estimativas de volumes e porcentuais , sem antes ter conhecimento do decreto a ser publicado em até 15 dias e sua efetiva aplicabilidade pelas montadoras”.
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