O fenômeno El Niño deve causar prejuízos ao redor de US$ 80 trilhões ao longo deste século. É número para ninguém colocar defeito, e o mais grave é que US$ 3 trilhões devem ser relativos até 2029.
Mas o El Niño é apenas um dos eventos decorrentes ou agravados pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. De outro lado, o derretimento das geleiras terá como consequência acelerar a elevação do nível dos oceanos, que acarretará na inundação parcial ou mesmo total de áreas urbanas densamente povoadas, como a cidade de Nova York.
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Não é preciso procurar muito longe. Os efeitos das mudanças climáticas podem ser observados no Brasil. Se nós achamos que somos abençoados porque não temos eventos naturais catastróficos, a Organização das Nações Unidas (ONU) pensa diferente e nos coloca entre os dez países mais atingidos por eventos dessa natureza.
As recentes secas no Sul e as chuvas torrenciais no Nordeste não deixam dúvidas de que o jogo é pesado e que os prejuízos decorrentes delas podem atingir bilhões de reais em danos de todas as naturezas.
Que o digam os prejuízos sofridos nos últimos anos pelo agronegócio. Mas não é só o agro que sofre com as mudanças climáticas. Não faz muitos anos, os reservatórios que abastecem de água grande parte das cidades do Estado de São Paulo estavam em níveis críticos. Este ano, as chuvas de verão, como resposta para a seca extrema, caíram com violência inédita sobre o Estado e devastaram o litoral norte paulista. Quer dizer, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Na seca e nas águas as mudanças climáticas estão atingindo o Brasil como não estávamos habituados a ver e cobrando um preço muito alto da população.
Todavia, o cenário é mais complexo e passa pela devastação da Amazônia, com auxílio direto de milhares de ações humanas que afetam o meio ambiente. Assim, se há pouco que podemos fazer para conter os estragos do El Niño e outros fenômenos naturais, no campo da devastação da natureza pelo ser humano podemos agir com muito mais rigor do que temos feito e reverter boa parte das consequências negativas que essas ações têm causado. Ainda há tempo para isso. No entanto, não é mais possível adiar as medidas que precisam ser rigorosamente implementadas. Os danos já se aproximam de níveis irreversíveis. Permitir que isso aconteça seria uma estupidez.
Neste cenário, os seguros de todos os tipos têm papel importante para minimizar os prejuízos. O exemplo mais fácil de ser mostrado é o que o seguro rural fez ao longo dos últimos anos em favor dos agricultores nacionais atingidos pelas secas e pelo excesso de chuvas.
Não há dúvida, tem muito mais para ser feito, de preferência rapidamente. O setor de seguros pode contribuir de forma mais consistente para minimizar pelo menos parte dos danos causados pela natureza, mas só ele é impotente para isso. É indispensável que o governo assuma suas responsabilidades, faça sua parte e dê as condições necessárias para o mercado poder trabalhar. l
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