De acordo com relatório recentemente publicado, as perdas decorrentes de eventos climáticos atingiram pouco mais de cem bilhões de dólares nos primeiros meses do ano. Esse número já ficou para trás e deve ficar mais ainda, com os próximos meses prometendo aumentar a conta.
De acordo com estimativas das seguradoras norte-americanas, os prejuízos decorrentes do furacão Helene devem passar os cem bilhões de dólares e as perdas com o furacão Milton devem repetir o número.
Foram necessários apenas dois eventos de forte intensidade para o valor inicial ser multiplicado por três. Estamos falando de trezentos bilhões de dólares e neste total não estão computados os prejuízos com as chuvas no Rio Grande do Sul, nem com a seca na região amazônica, nem com as queimadas que destruíram mais de onze milhões de hectares do território brasileiro. Também não estão incluídos os prejuízos com os incêndios florestais na Grécia e em Portugal, nem os danos decorrentes das enchentes na Europa Central. Falta ainda somar as perdas acontecidas na Ásia, especialmente na China e no Japão. Quer dizer, 2024 vai ultrapassar com folga o total dos prejuízos com eventos climáticos acontecidos em 2023, que chegaram a mais de duzentos e trinta bilhões de dólares.
A maior parte dessas perdas não está segurada, inclusive nos países desenvolvidos. É verdade, a penetração do seguro nos países mais ricos é muito mais expressiva do que nos países em desenvolvimento. Mas isso não quer dizer que todos contratem seguros para se protegerem integralmente contra os riscos que ameaçam a vida moderna. E os seguros para riscos climáticos não estão entre os mais contratados. Por exemplo, na Carolina do Norte, menos de 10% dos danos causados pelas inundações provocadas pelo furacão Helene estavam segurados. E na Flórida, algumas regiões do estado estão fora da cobertura de seguros oferecidos pelas seguradoras.
Sem dúvida nenhuma, a conta das indenizações pagas pelas seguradoras para as perdas causadas pelos eventos de origem climática em 2024 vai bater todos os recordes. E o que é mais grave, é quase certo que em 2025 ela será mais cara ainda. Como essa espiral deve seguir subindo e o mercado de seguros e resseguros tem um limite máximo de aceitação de riscos, em algum momento não muito distante as seguradoras não terão mais capacidade para seguir oferecendo esse tipo de proteção.
Sem a participação ativa dos governos na definição de políticas de proteção social e na constituição de fundos de catástrofe, destinados a atender as ocorrências decorrentes dos eventos de origem climática, não tem como se pensar numa política de prevenção e mitigação de perdas.
A ordem de grandeza vai muito além da capacidade da iniciativa privada de fazer frente ao que já está ocorrendo e, mais ainda, ao que vem pela frente. Os próximos anos devem ser assustadores. Por isso as discussões têm que sair do longo prazo e focarem no amanhã. É isto que vai acontecer no próximo dia 5, num seminário na Academia Paulista de Letras. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail secretaria@academiapaulistadeletras.org.br
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