O ano de 2020 será paradigmático. A pandemia do novo coronavírus é o maior cataclismo desde a Segunda Guerra Mundial. Nenhum outro momento teve o seu impacto social e econômico. As análises mostram um cenário no mínimo assustador. Estados Unidos, União Europeia e Japão, no final da pandemia, deverão estar mais ou menos onde estavam antes de 2019, ao passo que a China deve crescer 10% no período.
Além disso, a China, com sua vacina testada, entre outros lugares no Brasil, começa a se destacar como uma das maiores forças na indústria química e farmacêutica, aumentando consideravelmente sua influência e suas relações comerciais com países até agora na órbita ocidental.
Pelo tamanho de sua economia, os maiores bancos e maiores seguradoras, se já não são, em pouco tempo serão chineses. E o mesmo vale para a indústria automobilística, que vem se somar à indústria têxtil e à de material hospitalar. Como se não bastasse, o país se consolida como o maior importador de alimentos e minérios. Quer dizer, o mundo pós-pandemia será um mundo com a China mais presente e ativa na ordem internacional.
Mas o que aconteceu até aqui nos diferentes setores econômicos dos diferentes países? Com certeza os impactos da pandemia não são iguais, ou mesmo semelhantes, tanto no que se refere às nações, como no que se refere aos diferentes setores econômicos de cada uma.
Entre os setores com resultados bastante variados no primeiro semestre de 2020, o setor de seguros aparece em lugar de destaque. De lucros expressivos a prejuízos consideráveis em razão da pandemia, a atividade tem de tudo.
Os planos de saúde privados, ao contrário do que o leigo poderia imaginar, tiveram um primeiro semestre bastante positivo. A pandemia restringiu violentamente o uso dos planos para todos os procedimentos não vinculados à covid-19.
Tudo que não fosse emergência foi deixado para depois, e esse momento está começando a tomar vulto apenas agora, o que quer dizer que o ano de 2020 pode ser um ano de bons resultados para grande parte dos planos de saúde privados.
Mas a pandemia fez mais. O isolamento social, que no começo do processo foi respeitado, reduziu drasticamente o número de acidentes de veículos, garantindo um resultado mais do que satisfatório para as seguradoras fortemente dependentes do seguro de automóveis.
Mesmo com a queda na venda de seguros novos, porque a produção caiu para patamares comparáveis ao início da indústria automotiva no País, a redução das indenizações compensou com folga a queda do faturamento.
Mas se teve quem ganhou dinheiro no primeiro semestre, teve também quem mal e mal empatou e quem perdeu. A crise decorrente da pandemia reduziu a atividade econômica para patamares muito baixos, gerando uma enorme quebradeira de empresas e o aumento do desemprego, que já estava em patamar muito alto.
O empobrecimento da sociedade brasileira é evidente e, se for dolarizado, atinge valor expressivo. E o quadro só não está pior porque o auxílio emergencial pago pelo governo vai segurando as pontas e impedindo o agravamento da crise social, que tem tudo para mostrar a cara tão logo o auxílio deixe de ser pago.
Várias seguradoras dependem justamente do público mais atingido para tocar o grosso de seus negócios. Estas sentiram rapidamente o impacto da pandemia. A contratação de seguros novos caiu, a renovação dos seguros existentes caiu e a inadimplência dos segurados cresceu ao longo de todo o primeiro semestre. E o quadro não deve sofrer grandes alterações nos próximos meses e mesmo ao longo de 2021.
Como a sinistralidade dos seguros de veículos deve subir e a venda de apólices novas continuará fraca, a situação das seguradoras que atuam na carteira ficará menos confortável. E o mesmo vale para as operadoras de planos de saúde privados. A volta do uso intensivo dos planos já está em curso, elevando os custos, enquanto a perda de segurados deve causar impacto no faturamento.
Ninguém espera uma grave crise no setor, mas 2021 será um ano que demandará cuidados.
SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS
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